Marilyn Monroe, que praticamente não conseguiu frequentar a escola, tinha uma necessidade enorme de se cultivar. Estava sempre com um livro nas mãos, e gostava de autores difíceis – Joyce, Proust, Flaubert e Steinbeck entre eles. Sua vontade de obter cultura era tão grande que ela chegou a se casar com o grande dramaturgo Arthur Miller.
Segundo as palavras de Ruy Castro, ela “enchia cadernos com seus sonhos, ideias e palavras”. “Fragmentos” (Tordesilhas, 269 páginas) é composto destes “sonhos, ideias e palavras” da grande atriz.
No livro – uma edição caprichadíssima, com textos transcritos e fac-símiles - Marilyn fala sobre suas sessões de análise, seus planos, suas compras. Alguns pensamentos perdidos aqui e ali, alguns poemas. A sensação que dá ao terminar a leitura é estranha: “Fragmentos” dá a impressão de ser a ponta do enorme iceberg que era a mente de Marilyn, sempre fugidia.
Transcrevo aqui dois poemas, para dar uma ideia da coisa:
“Título – Sobre meus poemas
Norman – tão difícil de satisfazer
Quando tudo o que quero é tirar lazer...?
E daí que rimou?
O mundo acabou?
Quando ela (nós?) passamos por tudo isso Após esse tempo na terra”
“Deixei minha casa de madeira verde rústica –
Um sofá de veludo azul com o qual sonho até agora
Um arbusto escuro à esquerda da porta. Pelo caminho clíquete claque enquanto minha boneca em sua carruagem subia sobre as rachaduras – 'Iremos longe.'
Os prados são imensos a terra (será) dura
Nas minhas costas. O capim ondeou tocava
o azul e nuvens brancas paradas se transformando
de um homem velho para um cachorro sorridente com orelhas ao vento
Olha –
Os prados estão alcançando – estão tocando o céu
Deixamos nossos contornos contra / sobre o capim amassado.
Ela morrerá mais cedo porque estávamos lá – algo diferente
terá crescido?
Não chore minha boneca não chore
seguro você e a balanço até dormir.
quieta quieta Eu estou estava apenas fingindo que eu (era)
não sou sua mãe que morreu.
Alimentarei você do arbusto escuro brilhante
à esquerda da porta.”
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