Biografar Marilyn Monroe não é uma atividade fácil. Dois exemplos, retirados de duas biografias do mito que li recentemente, “Os últimos anos de Marilyn Monroe”, de Keith Badman (Benvirá, 464 páginas), e “Marilyn Monroe”, de Anne Plantagenet (L&PM, 224 páginas), dão uma ideia da coisa:
– no livro de Anne Plantagenet o diretor e escritor Bob Slatzer aparece como amante, confidente e melhor amigo de Marilyn Monroe durante muitos anos – sempre discreto e presente; no de Keith Badman o mesmo Slatzer não passa de um embusteiro que alegou, numa biografia mentirosa, um relacionamento que jamais existiu: segundo “Os últimos anos de Marilyn Monroe”, o diretor mal conhecia a atriz.
– Marilyn, que não conheceu o pai e tinha uma mãe com graves problemas mentais, disse que antes dos dezesseis anos teve onze casais de pais substitutos: segundo a atriz, ela era “empurrada de um [casal] para o outro, indesejada e não amada”. A biografia de Keith Badman defende que esta história é fantasiosa – já a de Anne Plantagenet assume que esta foi a realidade dos fatos.
Lendo as duas em paralelo, como eu fiz, tive uma tendência inicial de acreditar mais no que está escrito em “Os últimos anos de Marilyn Monroe”. Afinal de contas, Keith Badman, a todo momento, faz declarações do tipo “posso afirmar categoricamente que…” e “posso desfazer com segurança as histórias erradas que…”: em outras palavras, o autor tem certeza de trazer a verdade final sobre Marilyn. Como a biografia é longa, esta insistência toda do autor em se declarar basicamente o único sabedor do que aconteceu na vida da atriz acaba trazendo alguma desconfiança por parte do leitor – de fato, as resenhas que pesquisei na intenet (posso citar uma do New York Journal of Books e outra do Washington Post) são extremamente negativas em relação ao livro de Keith Badman (jornalista inglês especializado em cultura pop).
Mesmo com essas ressalvas, “Os últimos anos de Marilyn Monroe” é infinitamente superior a “Marilyn Monroe”, de Anne Plantagenet, que a mim me pareceu um apanhado de histórias obtidas aqui e ali, sem maior cuidado com a exatidão histórica: para que se tenha uma ideia, no final da biografia a autora, comentando sobre a morte da atriz – cuja causa é motivo de polêmica até hoje -, declara o seguinte: “é preciso a qualquer preço procurar saber mais? O que é a verdade? Essa avalanche de detalhes repugnantes sobre a autópsia da defunta? (…) Se a vida dela pertenceu a todo o mundo, ao menos a morte não poderia ser só dela?”
Independente da intenção de declarações como estas, se a gente lê uma biografia, a gente quer saber da verdade, né?
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