Literatura

“Desgracida”, de Dalton Trevisan

21 de abril de 2019 0

Muitos dos textos da segunda parte (“Mal Traçadas Linhas”) de “Desgracida”, de Dalton Trevisan (Record, 237 páginas) eu já tinha lido na compilação “Até tu, Capitu?”, da L&PM, já comentada por aqui. São textos em que o grande curitibano fala de literatura com uma franqueza pouco usual (fala mal de Guimarães Rosa e de “O general e seu labirinto”, de Gabriel García Márquez).

Já na primeira parte de “Desgracida”, chamada “Ministórias” (e que ocupa mais de 90% do livro), por outro lado, temos o Dalton Trevisan dos livros mais recentes (o livro publicado em 2010), cada vez mais conciso, contando histórias com grande dramaticidade em poucas linhas. Por exemplo, veja-se ou “O Braço Armado”, que consiste numa única frase: “O filho é o braço armado da mãe contra o monstro do pai”, ou “A Chupeta”, reproduzido a seguir:

“Ele confisca a chupeta da filha, que se consola sugando os pequeninos dedos.
Ah é? Não aprende?
E o pai queima com a brasa do cigarro todos os dedinhos.”

Mas Dalton Trevisan também sabe ser agridoce, como em “Amor de Velha”:

“O velho geme, espirra, tosse – e que tosse!
A velhinha, no fundo da cama:
‘Isso mesmo. Continue assim. Não se cuide.’
‘…’
‘Nada como um inverno bem frio.’
‘…’
‘Faça de mim na primavera a mais faceira das viúvas alegres.’”

Ou de humor ingênuo, como em “Nome Difícil”:

“A visita:
‘Bidu, como é o nome do teu pai?’
‘Raruruul…’
Isso mesmo, Raul.
‘Nossa! Que difícil.’
A pivete, dois aninhos:
‘Né, não.’
‘?’
‘Eu só chamo ele de pai.’”


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