“Poemas”, de Friederich Hölderlin
Literatura

“Poemas”, de Friederich Hölderlin

10 de fevereiro de 2016 0

Um dos maiores poetas da língua alemã, Friederich Hölderlin (1770-1843) teve uma vida trágica. Na Alemanha da época, pessoas de classe média baixa como ele só tinham como alternativa para cursar uma faculdade o curso de teologia, bancado pelo Estado. Teólogo formado (ele preferia ter feito Direito), Hölderlin não sentia a menor vocação para ser pastor, profissão do seu pai, falecido quando ele tinha apenas dois anos. Neste caso, a melhor opção profissional para ele era a de ser preceptor, professor particular de filhos de fidalgos ou grandes burgueses. Foi exercendo essa profissão que ele conheceu o grande amor de sua vida em 1796, Susette Gontard, mulher de um banqueiro de Frankfurt e que era mãe de um garoto de quem Hölderlin era preceptor. Ela foi a musa inspiradora de muitos de seus poemas, sob o nome de Diotima (da mesma forma que a Beatriz de Dante Alighieri, cujo nome real era Beatrice Portinari). Hölderlin e Susette tiveram um romance tórrido, que acabou quando ele foi obrigado a abandonar o cargo de preceptor do filho dela – já que tinha sido humilhado em público pelo banqueiro. Com a perda do emprego, sua situação financeira fica cada vez mais difícil e, a partir da morte de Susette em 1802 (os dois nunca chegaram a perder totalmente o contato) ele, que já apresentava um quadro de hipocondria “grave”, começa a apresentar sintomas cada vez mais graves da insanidade que acabou sendo diagnosticada em 1805. De 1807 até sua morte, em 1843, Hölderlin foi deixado aos cuidados de Ernst Zimmers, um marceneiro admirador da única obra de ficção em prosa que o poeta escreveu, Hiperíon. Hölderlin continuou escrevendo poesias ainda durante a fase mais aguda da sua loucura. Apesar de ter publicado alguns livros em vida, apenas no século XX o valor de sua obra foi reconhecido.

José Paulo Paes selecionou os poemas, traduziu e escreveu a introdução da edição de “Poemas” de Hölderlin para a Companhia das Letras em 1991. O objetivo declarado dele foi “propiciar um acesso inicial do aficionado brasileiro de poesia à obra do poeta”. A edição é realmente espetacular.

Hölderlin tinha mais do que uma simples admiração pelos deuses da Grécia Antiga. Em “Aos poetas hipócritas” ele critica aqueles que escrevem poemas que citam os deuses ao mesmo tempo que não acreditam neles (“Não me faleis de deuses, frios fariseus! / Sois por demais sensatos para crer em Hélio”); no poema ele acaba consolando os deuses que, na visão de Hölderlin, praticamente se confundem com a Natureza (“Consolai-vos, deuses! O canto inda vos honra / Mesmo que a alma tenha deixado vossos nomes. / E se é preciso uma palavra solene, / Mãe Natureza, eles lembram-se de ti. ”). Em “Quando eu era menino” ele declara que “foi nos braços dos deuses” que ele cresceu. Em “Os deuses” ele lamenta a sorte de quem não os conhece, e acrescenta: “Somente vós, de perene juventude / Nutris candura de criança dentro da alma / De quem vos ama, se salvais o gênio / De abismar-se em erros e temores. ”

Os maiores destaques do livro são as grandes elegias “O Arquipélago” (um maravilhoso poema com temática grega) e “Pão e Vinho” (em que ele consegue unir os deuses gregos com a vinda de Cristo), e o hino “Patmos” (também de temática cristã). Pelo contraste com a intensidade, profundidade e beleza dos poemas principais, os exemplares escolhidos por José Paulo Paes dos poemas de juventude e da época da loucura se destacam pela simplicidade na temática e nos objetivos.

Para terminar este texto, escolho reproduzir o poema “Aos jovens poetas”, tão bonito que dá vontade de tatuar no corpo:

Irmãos! Talvez a nossa arte logo amadureça
Porque, como o jovem de há muito fermenta para
Chegar logo à tranquila beleza;
Sede só piedosos, como o grego era!

Amai os deuses, pensais nos mortais com afeto!
Ebriez e frieza, lição e descrição: odiai-as
Todas, e, se o mestre vos der medo,
Pedi conselho à imensa Natureza

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