“Comentários sobre a Carta aos Gálatas”, de São João Crisóstomo
Religião

“Comentários sobre a Carta aos Gálatas”, de São João Crisóstomo

25 de outubro de 2015 0

Os Padres da Igreja foram os teólogos, bispos e mestres cristãos dos séculos II a VII que tiveram papel decisivo na sistematização do cristianismo. A influência dos ensinamentos dos Padres é profunda não só entre católicos romanos e ortodoxos, como também entre os protestantes – a doutrina da predestinação de Calvino, por exemplo, foi influenciada por Santo Agostinho, um dos dois mais importantes Padres da Igreja. Vou comentar aqui sobre uma obra do outro dos dois mais importantes, São João Crisóstomo (374-407), arcebispo de Constantinopla: “Comentários sobre a Carta aos Gálatas”.

Antes de qualquer coisa, é importante discorrer sobre esta belezura de edição que estou lendo, na qual está incluída a obra supracitada: chama-se “Comentários às Cartas de São Paulo/1” (é o primeiro dos três livros de São João Crisóstomo sobre os textos de Paulo). É uma edição de mais de novecentas páginas, capa dura, papel de excelente qualidade e impressão de primeira linha. É composta pelas “Homilias sobre a Carta aos Romanos” e “Homilias sobre a Carta aos Efésios”, e pelos “Comentários sobre a Carta aos Gálatas” – a menor das três partes, com cerca de cento e vinte páginas. O livro é da Editora Paulus, e é tão bonito que dá orgulho de ler.

“Comentários sobre a Carta aos Gálatas”, de certa forma, representa uma dupla ruptura: a carta original de Paulo fala também sobre a justificação pela fé, mas o maior destaque está na separação do cristianismo em relação ao judaísmo, o que era uma total novidade na época em que foi escrita. Paulo, por exemplo, já não admite que cristãos exijam a circuncisão para quem venha a se converter. Esta é a primeira ruptura: a que ocorreu entre as duas primeiras religiões monoteístas. A segunda é o que a própria posição dos Padres da Igreja representou em uma das maiores – senão a maior – revoluções espirituais e culturais pelas quais a humanidade já passou: a ruptura de grande parte do Ocidente do paganismo em direção ao cristianismo.

São João Crisóstomo consegue praticamente converter a curta carta de Paulo, de seis páginas, em uma obra vinte vezes mais longa: em “Comentários sobre a Carta aos Gálatas”, para cada versículo da carta original, o Padre faz cerca de uma página de comentários. O impressionante na leitura da obra é que São João Crisóstomo consegue se aprofundar de maneira tão precisa, clara e pertinente que dá a impressão que estamos lendo a própria carta de Paulo, mas numa versão que facilita muito a compreensão – o que é ótimo para um leigo como eu!

Ainda bem que existem obras de Padres da Igreja para eu ler pelo resto da vida. Já estou adorando as “Homilias sobre a Carta aos Romanos”.

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