É fácil se queixar do perfeccionismo de João Gilberto em shows. Suas reclamações quanto à acústica, quanto ao ar condicionado e quanto aos barulhos da plateia são folclóricos. Até eu, que o considero – disparado – o melhor cantor brasileiro, fiquei tenso no único show dele a que assisti, em 2002, de medo que ele fosse embora por algum motivo insignificante (conforme conto no meu site).
Mas o assunto aqui é Los Hermanos, possivelmente a banda brasileira que mais gostei na vida. Acompanhei a luta deles para fugir do estigma do superhit Anna Julia, e fui num show quase sem público no Era Só O Que Faltava, aqui em Curitiba, em 2002 – quando, ainda brigados com a gravadora, tentaram dar um novo rumo em sua carreira com o inovador – e espetacular – “Bloco do Eu Sozinho”. Em junho de 2003, assisti a outro show deles por aqui, no Cine Música Bar, em que foram apresentadas algumas músicas do disco subsequente, “Ventura” – ainda melhor que o anterior. Este segundo show foi tão épico que os integrantes da banda prometeram voltar a Curitiba ainda na mesma turnê – o que fizeram em dezembro do mesmo ano, no Espaço Callas, em outro show em que também fui (a descrição dos três está no meu site). Durante muito, muito tempo ouvi direto “Bloco do Eu Sozinho” e “Ventura” – nenhum disco de rock (não-metal) brasileiro chega perto destes dois, na minha opinião. E não me venham com Mutantes, por favor.
Só que veio o disco subsequente, “4”, de 2005, muito ruim – e o “fim” da banda em 2007, com a promessa de shows futuros de tempos em tempos. E eu basicamente não ouvi mais Los Hermanos – acho que saturei de tanto ouvir “Bloco do Eu Sozinho” e “Ventura”, na verdade.
Ainda no começo de 2015 minha filha – fã da banda – me avisou que o Los Hermanos faria um show aqui em Curitiba em outubro, na Pedreira Paulo Leminski. Eu não estava muito entusiasmado com a ideia, mas tinha certeza de que iria gostar: com tantos anos distante no tempo, eu provavelmente não tinha parado de gostar das músicas da banda.
Chegando na Pedreira Leminski, a músicas continuavam lindas. Mas o som do show estava horroroso. Sabe aqueles shows de garagem da banda do seu amigo em que o som dói no ouvido, em que não dá para ouvir direito nenhum instrumento, em que tudo parece mal feito e descuidado? E o mais chocante de tudo é que eu fui, pouquíssimo tempo atrás, em um show da Katy Perry tecnicamente perfeito (também comentado no meu site), na mesma Pedreira Paulo Leminski.
Se fosse o João Gilberto ao invés do Los Hermanos, tenho certeza de que ele teria se mandado para não dar este vexame. E eu não o teria achado chato, mas profissional.
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