“A maçã”, de Samira Makhmalbaf
Cinema

“A maçã”, de Samira Makhmalbaf

29 de julho de 2015 0

Até hoje, assisti a poucos filmes iranianos. O que mais me marcou foi “Close-up”, de Abbas Kiarostami, semidocumentário em que um homem pobre, parecidíssimo com o diretor  Mohsen Makhmalbaf, se faz passar por ele junto a uma família de classe média alta cujos membros são admiradores de arte e cinema. As discussões sobre a importância da arte de maneira e geral  e sobre a pobreza e falta de perspectivas dos pobres iranianos são levadas com uma força e sensibilidade admiráveis. Um dos melhores filmes a que já assisti. Outro que gostei muito foi “O balão branco”, de Jafar Panahi, em que uma menina sai de casa para comprar um peixinho dourado e passa por várias situações de risco no caminho. Nestes dois, e em outros poucos filmes iranianos a que assisti, sempre se destacaram o profundo carinho com que as histórias são contadas e as grandes provas de solidariedade que os personagens costumam mostrar uns com os outros.

Recentemente assisti “A maçã”, de Samira Makhmalbaf (que está na foto que acompanha este texto), filme de 1990 feito quando ela tinha 17 (!) anos – praticamente tão bom quanto “Close-up”, supracitado. O filme, baseado em fatos reais, é sobre Massoumed e Zahra, duas meninas filhas de um pai desempregado (que vive de caridade, rezando para os outros a troca de dinheiro e comida) e uma mãe cega (aparentemente deficiente mental) que ficam trancadas em casa durante 11 anos – sem educação, sem escola, sem banho -,  pois os pais têm medo do que possa acontecer com elas fora do ambiente familiar. Novamente, é a força da solidariedade que se destaca: das vizinhas, preocupadas com o destino das meninas; da assistente social, que entende não só o drama das crianças, como também o dos pais delas; das crianças que Massoumed e Zahra encontram pelo caminho quando de um de seus primeiros passeios pelas ruas depois de anos de cárcere privado; e até mesmo dos pais das garotas, que tentam fazer o melhor pelas meninas – de sua maneira torta, é verdade.

A gente volta e meia ouve falar que a solidariedade e o amor florescem com maior força em condições de grande pobreza: é o que parece nos dizer Samira Makhmalbaf nesta obra-prima.

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