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“Rastejando até Belém”, de Joan Didion
Literatura
“Rastejando até Belém”, de Joan Didion
19 de março de 2022 at 17:58 0
Logo no início de “Rastejando até Belém”, de Joan Didion (Todavia, 240 páginas, tradução de Maria Cecilia Brandi, lançado originalmente em 1968) se lê que
“o Vale de San Bernardino fica a apenas uma hora de Los Angeles, na direção leste, pela rodovia San Bernardino, mas em certos sentidos é um lugar atípico: não a Califórnia costeira dos crepúsculos subtropicais e dos suaves ventos do oeste vindos do Pacífico, mas uma Califórnia mais severa, assombrada pelo Mojave do outro lado das montanhas, devastada pelo calor e pela secura do vento de Santa Ana, que desce pelas encostas a 160 quilômetros por hora, ruge pelos quebra-ventos de eucalipto e dá nos nervos. Outubro é o pior mês de ventania, o mês em que é difícil respirar e as colinas ardem espontaneamente. Não chove desde abril. Toda voz parece um grito. É a estação do suicídio, do divórcio e do pavor arrepiante, onde quer que o vento sopre.”
É um trecho impressionante e que faz parte do primeiro ensaio do livro, “Sonhadores de um sonho dourado”, sobre algumas famílias que foram criar uma comunidade no Vale de San Bernardino. E assim os ensaios vão transcorrendo, sempre descrevendo aspectos da vida americana. Uma escola fundada pela cantora Joan Baez. Um jantar com John Wayne no final da vida, quando estava com câncer e estava trabalhando em seu último filme. Um comunista, o camarada Laski. E algumas histórias pessoais, em que a autora fala de seu marido, sua filha, suas manias. O melhor ensaio do livro é o longo “Rastejando Até Belém”, que dá o título ao livro. É uma história de hippies: a autora vai até São Francisco na Califórnia no ápice da power flower, e o que ela mostra não tem nada a ver com paz e amor, mas sim com pessoas perdidas, sem rumo e drogadas o dia inteiro – sua descrição é fria e, às vezes, cruel. Na verdade, essa visão um tanto fria e amarga transpassa o livro inteiro que, por isso, acaba sendo meio cansativo – ao menos para mim. Mas que é escrito com maestria, não há dúvidas a respeito. (fonte da foto: Jornal Rascunho)
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