Caninos Brancos e O Negócio do Brasil
História, Literatura

Caninos Brancos e O Negócio do Brasil

16 de maio de 2015 0

O que normalmente se sabe sobre a reconquista do Brasil Holandês pelos portugueses é que esta se deu em 1645 pela rendição do Recife depois de uma guerra sangrenta. Por outro lado, as longas negociações que permitiram que Portugal oficializasse a posse do Nordeste é um assunto bem mais obscuro, descrito pelo grande historiador Evaldo Cabral de Mello (recentemente empossado na Academia Brasileira de Letras) em “O negócio do Brasil – Portugal, os Países Baixos e o Nordeste 1641-1669”. O livro conta mais ou menos o que segue.

Quando reconquistou Recife dos holandeses em 1645, Portugal estava em posição bastante fragilizada: poucos anos antes, em 1640, havia terminado o longo período em que o país e suas colônias estiveram inscritos entre os domínios da Coroa da Espanha (a chamada “União Ibérica”, iniciada em 1580). Para assegurar sua independência, Portugal teve ainda de lutar uma guerra contra a Espanha que durou até 1668. Devido a estes percalços, a maioria dos países europeus ainda não reconhecia o Reino de Portugal.

Neste contexto, a Holanda ameaçava tentar reconquistar o Nordeste brasileiro, o que aterrorizava os portugueses – que iniciaram então uma longa negociação com o intuito de manter a posse do território. Além dos citados, outros países tinham seus interesses na negociação, notadamente a Inglaterra: preocupada com o aumento do poderio comercial holandês e em permanente conflito com a Espanha, ela queria ajudar Portugal a atrapalhar a vida daqueles dois países. Embora menores, a França também tinha seus interesses no rumo das negociações. Estas só foram terminar 20 anos depois da reconquista do Recife, com o Tratado de Haia em 1661, por meio qual a Holanda reconhecia a posse portuguesa do Nordeste em troca de grandes quantidades do sal de Setúbal e duas praças-fortes portuguesas no Oriente.

Escrito com grande abundância de detalhes, “O negócio do Brasil – Portugal, os Países Baixos e o Nordeste 1641-1669” oferece dificuldades para o leitor pouco familiarizado com os pormenores da política europeia dos anos 1600. Por outro lado, o livro apresenta um painel fascinante de uma época pouco conhecida da História do Brasil.

Outro tipo de dificuldade oferece “Caninos Brancos”, escrito por Jack London (1906). O romance conta a história de um lobo que nasce e cresce na floresta e que, posteriormente, tem de se adaptar à convivência com os seres humanos. Como o livro é contado pelo ponto de vista do lobo, até mesmo o presidente Theodore Roosevelt criticou Jack London por criar um naturalismo falso e sentimental – afinal de contas, quem diabos sabe exatamente o que se passa na cabeça de um lobo? Conforme a introdução escrita pelo grande Daniel Galera, London “defendeu-se alegando que criou seus heróis caninos, entre outras razões, justamente para combater a humanização dos animais na literatura. A seu ver, os cães de seus livros eram movidos puramente por instinto, agindo sem pensar”. De todo modo, conforme complementa Galera, “é inegável que o romance é marcado por essa ambiguidade”.

Mas isso pouco importa para os milhões de fãs que “Caninos Brancos” arrebatou desde sua publicação, e que continua arrebatando (entre os quais eu já posso me incluir): Jack London escreve com tal vivacidade e a história que ele conta é tão tocante que o romance é um daqueles que a gente não consegue parar de ler enquanto não termina. Uma obra-prima (justamente publicada pela coleção “Clássicos”, da Penguin Companhia das Letras).

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