A Ditadura Encurralada, de Elio Gaspari
História

A Ditadura Encurralada, de Elio Gaspari

16 de abril de 2015 0

A ditadura brasileira começou no ano de 1964, com o golpe militar (ou Revolução) de 31 de março. O primeiro presidente do período foi o general Castello Branco (1964-1967), que fez uma ditadura pouco repressiva em comparação com seus sucessores, generais Costa e Silva (1967-1968) e Médici (1969-1974). Com a promulgação do AI-5 (Ato Institucional número 5) em 1968, a presidência da República passou a contar com poderes extraordinários para reprimir a oposição: isto, somado ao poder obtido por organizações militares e paramilitares de direita, representou um nebuloso tempo de censura, represo o e tortura aos opositores do governo. A abertura do regime militar começou no governo do general Ernesto Geisel (1974-1978) e teve continuidade no último dos presidentes da ditadura, Jogo Baptista Figueiredo (1979-1984).

Todo este turbulento período da vida nacional está sendo brilhantemente dissecado em uma série de livros do jornalista Elio Gaspari: já foram lançados A Ditatura Envergonhada, A Ditadura Escancarada, A Ditadura Derrotada e A Ditadura Encurralada. Este último é o de lançamento mais recente, e foi publicado neste ano pela Companhia das Letras (524 páginas). A Ditadura Encurralada trata do período que vai de janeiro de 1975 – quando Geisel, já com quase um ano no poder, decide parar de censurar o jornal conservador O Estado de São Paulo – até outubro de 1977 – quando o presidente demite o ministro do Exército, Sylvio Frota.

Este período de quase três anos, muito bem descrito por Gaspari, foi repleto de turbulências políticas: manifestações contra a ditadura, a morte dos ex-presidentes João Goulart e Juscelino Kubitscheck, além do assassinato, por parte da linha-dura do regime, dos oposicionistas Manoel Fiel Filho e Vladimir Herzog, foram alguns dos acontecimentos mais importantes.

Mas o ponto forte de A Ditadura Encurralada é a descrição da guerra de bastidores ocorrida entre a linha-dura do regime – militares e simpatizantes que queriam que o processo de abertura política fosse simplesmente deixado de lado – e a chamada distensão – que, iniciada pelo próprio presidente da República e que tinha no general Golbery do Couto e Silva o seu maior líder dentro do governo, queria levar o país de volta à democracia num processo lento, gradual e seguro. O leitor é conduzido a um verdadeiro thriller, em que o general Geisel pende ora para um lado, ora para outro, conforme as conveniências do momento: não se pode esquecer que ele não poderia “abrir demais” o regime – sob pena de revolta militar – e nem, claro, deixar a abertura de lado.

Segundo Gaspari, o principal inimigo a ser combatido por Geisel já não era mais a subversão de esquerda – praticamente eliminada nos mandatos dos presidentes anteriores – mas sim o chamado “porão” da ditadura: militares de baixa patente que torturavam e reprimiam com total autonomia, criando um verdadeiro poder paralelo que não se submetia nem mesmo à autoridade do presidente da República. E foi com a difícil demisso de Sylvio Frota, ministro do Exército e maior liderança entre os partidários da linha-dura, que Geisel, finalmente, retomou seu poder constitucional.

Com uma brilhante pesquisa (Geisel, já falecido, tinha inclusive sido entrevistado por muitas horas por Gaspari) e uma narrativa fluente e atrativa, A Ditadura Encurralada é um livro essencial para quem se interessa pela história brasileira daquele período.

(texto escrito em 2004)

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