Dawson’s creek
Televisão

Dawson’s creek

11 de abril de 2015 0

Daqui a quarenta e cinco minutos, se tudo correr bem, recomeça o Dawson’s Creek. Para quem não sabe, este é um seriado que passa numa cidadezinha do interior, onde alguns adolescentes, como direi, “vivem a vida”. Como quase todos os adolescentes, aqueles de Dawson’s Creek namoram, se relacionam, têm amizades – as amizades vêm e vão, os namoros idem, aquelas coisas. Os pais de um estão para se separar, o pai de outra está na cadeia, outra não se dá com os progenitores. Adolescentes normais, do interior dos Estados Unidos, vivendo uma vida normal e de classe média.

Assim como eu, Dawson’s Creek têm milhares de fãs. Uma seriezinha tão “normal” que é objeto de culto de grande número de adolescentes (e outros nem tanto), que passam horas na internet, discutindo e relendo os episódios anteriores (eu não chego a tanto, mas canso de ficar até as cinco da manhã pra pegar o episódio quando passa na TV – raramente assisto Dawson’s gravado, ao contrário do que faço com o Arquivo X, outra paixão minha), e que, por exemplo, ficaram histéricos quando da passagem de alguns atores da série aqui no Brasil? Por que isto? Qual o segredo, afinal, de Dawson`s Creek?

Há muito tempo gostaria de escrever um texto sobre Dawson`s Creek, mas acho que sempre me perdi na hora de responder a esta questão. Mas eu acho que agora sei o como explicar. Vamos lá: se eu fosse definir esta ótima série numa única palavra, esta palavra seria “sensibilidade”. É isto. Tudo em Dawson’s Creek é tratado com enorme sensibilidade. Desde a fotografia, meio impressionista para os padrões dos seriados americanos, até a maneira como todos os assuntos são tratados: a iniciação sexual, as dificuldades da menina que tem o pai preso, a separação dos pais de outro, a opção sexual de um dos personagens pelo homossexualismo. Todos os assuntos são tratados com o máximo respeito. A série chega a ser tachada de conservadora às vezes.

Esta sensibilidade toda, por óbvio, ficaria sem sentido se os personagens não fossem bem construídos. E aqueles de Dawson’s Creek o são, profundamente – e contraditórios também. O Dawson é sério, compenetrado, sonha em ser cineasta, tem bom caráter mas é explosivo demais. O seu melhor amigo (quando não estão brigando pela Joey) é o folgado e irresponsável Pacey, que tem ainda um pai babaca, mas que se deixa levar menos por ódios. A Joey namorou os dois. Como todos os principais personagens da série, ela também tem bom caráter – mas tem um comportamento muito explosivo e irritado. A Jenn veio de Nova Iorque, é desajustada e cética (seus pais nunca deram bola pra ela), mas a sua avó está, aos poucos, dando esperanças pra ela. O melhor amigo da Jenn, o Jack, é o camarada que se assumiu homossexual. A irmã dele tem problemas de depressão (assim como a sua mãe, que ficou maluca) e é uma aluna aplicada no colégio.

Com todos os problemas pelos quais passam, os personagens principais da série sempre acabam dando uma mensagem, como direi, “positiva” – sempre se sai com a sensação que ser bom vale a pena, quando se assiste Dawson’s Creek. Isto sem contar com o fato de que os personagens, quase todos, são bons alunos e não usam drogas (a única vez que uma personagem usou drogas quase morreu, numa propaganda antidrogas descarada). Não é à toa que os cínicos não gostam da série.

O defeito da série, sempre apontado, é que os personagens são muito mais articulados que os adolescentes comuns. Até pode ser, e isto justifica por que tantos trintões, como eu, sejam fãs.

Bem, chega. São dez pras duas e preciso acabar isto logo. O seriado já vai começar! Tchau!

(Esta página é dedicada ao meu grande amigo Ricardo Magalhães)

[Trilha sonora: Programa do Jô Soares (Rita Lee assassinando os Beatles; uma matemática que virou taróloga e uma camarada que fala sobre história (acho)]

(Texto escrito em 11 de junho de 2001)

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