Vigésimo lugar: Viagem à Itália, de Roberto Rossellini (1953)
Casal de ingleses passa uma temporada em Nápoles, enquanto o seu casamento passa por dificuldades. Nas mãos de Bergman este seria um filme extremamente intenso. Nas mãos de Rossellini, a dramaticidade fica reduzida a um mínimo necessário. E a coisa funciona – e bem.
Décimo nono lugar: Satyricon, de Frederico Fellini (1969)
O filme é uma adaptação livre do clássico licencioso da Antiguidade Satyricon, de Petrônio, que conta as aventuras – normalmente de teor erótico e/ou violento – de Encolpius, um jovem romano. Assim como o livro, do qual só sobraram excertos, o filme também se desenvolve em episódios, às vezes sem ligação aparente entre si. Na cena final, inclusive, o rapaz começa uma frase e não a termina: no clássico de Petrônio uma nova aventura está começando quando o livro acaba. Satyiricon é exagerado, esquisito, com um humor estranho e meio baixo astral às vezes. Visualmente, porém, é uma experiência fascinante.
Décimo oitavo lugar: Luzes da cidade, de Charles Chaplin (1931)
O vagabundo Carlitos faz tudo o que pode para ajudar uma pobre florista cega. Com doses extremamente bem equilibradas de comédia e melodrama, Luzes da cidade é possivelmente a obra-prima de toda a carreira de Chaplin. E quem não se emocionar com a cena final é mulher do padre.
Décimo sétimo lugar: Pulp Fiction, de Quentin Tarantino (1994)
O filme, composto de três episódios fora da ordem cronológica, conta a história de um dia na vida de dois gângsteres e de um boxeador. A grande qualidade de Pulp Fiction é a mistura extremamente bem bolada entre violência e diálogos engraçados – que muitas vezes nada têm a ver com o enredo. No filme há momentos tão insólitos que parecem ocorrer em uma realidade paralela.
Décimo sexto lugar: Era uma vez no oeste, de Sergio Leone (1969)
O Velho Oeste certamente era um lugar de pessoas sujas, suadas e de barba malfeita. Os filmes americanos antigos esqueciam deste detalhe, enquanto que, posteriormente, os italianos do western spaghetti fizeram furor ao apresentar os caubóis como eles devem ter sido. Mais do que isto, este novo estilo fez surgir um gênio: Sergio Leone. “Era uma vez no oeste” está aqui no lugar de “Três homens em conflito” por uma cabeça de vantagem, por ser grande arte – enquanto que o outro pende mais para o humor e para o deboche. Mas o prazer de assistir a qualquer um dos dois acaba sendo praticamente o mesmo. E Ennio Morricone assina as duas trilhas sonoras. E não precisa dizer mais nada. (Agradeço ao Fábio Bianchini por ter me ajudado a escolher entre este e Pulp Fiction, o próximo da lista.)
Décimo quarto e décimo quinto lugares: O Atalante, de Jean Vigo (1934), e Aurora, de F. W. Murnau (1927)
Os dois filmes são semelhantes em tantos aspectos que os acabei deixando juntos na classificação. Ambos contam histórias de casais em crise. Nos dois a mulher foge para a cidade grande – a do filme de Jean Vigo porque quer aventuras, a do de Murnau porque o marido a tinha tentado assassinar – e, depois, seu parceiro a procura. Em ambos barcos têm um papel fundamental: “O Atalante” é o nome do pequeno navio de carga em que o casal mora e, em “Aurora”, é em uma canoa a remo que acontece a tentativa de assassinato e, depois, a volta do casal para casa, quando acontece uma tempestade violentíssima. Mas a semelhança fundamental está na sensibilidade e delicadeza com as quais os dois diretores contam suas histórias.
Décimo terceiro lugar: El Dorado, de Howard Wawks (1967)
Robert Mitchum faz um xerife bêbado e John Wayne faz o seu melhor amigo. Os dois companheiros, que às vezes resolvem suas pendengas na base do tapa, se unem contra reis do gado gananciosos e homens de negócios corruptos. Com diálogos memoráveis, aventura bem conduzida, dois atores magistrais no auge da forma e, principalmente, muito humor, El Dorado é um western que melhora a cada vez que é assistido.
Décimo segundo lugar: Andrei Rublev, de Andrei Tarkovski (1966)
Tarkovski conta a história do grande pintor russo em um filme com vários episódios, que às vezes parecem ter pouca ligação entre si – mas que, depois de mais de três horas de projeçãoo, fazem todo o sentido do mundo. Andrei Rublev é um filme cheio de fúria, maldade e violência, ao mesmo tempo que caridoso, piedoso e profundamente religioso. Coisa de mestre.
Décimo primeiro lugar: A felicidade não se compra, de Frank Capra (1946)
George Bailey (vivido por James Stewart), nas vésperas do Natal, resolve se suicidar porque nada dá certo na sua vida. Então um atrapalhado anjo sem asas aparece para ajudá-lo. A felicidade não se compra seria uma simples história de bem contra o mal se os personagens principais não fossem tão bem construídos. Sorte nossa, que não nos cansamos de nos emocionar com esta maravilha.
Décimo lugar: No Tempo das Diligências, de John Ford (1939)
O filme conta a história de algumas pessoas que precisam atravessar uma estrada – onde aparecem as famosas tomadas panorâmicas de Monument Valley – dominada por índios. Em No Tempo das Diligências pouco é dito, muito é sugerido: enquanto as pessoas com uma boa posição na sociedade se preocupam apenas e tão somente com dinheiro e aparência, os marginalizados – o fugitivo da justiça, o alcoólatra, a prostituta – são os únicos capazes de bondade e heroísmo.
Nono lugar: A Bruxa de Blair, de Daniel Myrick e Eduardo Sánchez (1999)
A Bruxa de Blair tem um verniz “vanguardista”, já que todas as tomadas são feitas pelos próprios atores, que tremem a câmera e discutem sobre a filmagem o tempo todo. Mas não é isso que importa. A história dos três jovens que se perdem numa floresta e são perseguidos por alguém que não aparece é terror em estado bruto.
Oitavo lugar: Era uma vez em Tóquio, de Yasujiro Ozu (1953)
Um casal de velhos que mora no interior vem visitar os filhos em Tóquio, e estes não arranjam tempo para lhes dar atenção. O que importa nesta obra-prima sensível e melancólica é o que não é dito.
Sétimo lugar: Contos da lua vaga depois da chuva, de Kenji Mizoguchi (1953)
Prêmio do júri do festival de Veneza, o deslumbrante “Contos da lua vaga depois da chuva” usa extensivamente o sobrenatural para contar uma história maravilhosamente humana.
Sexto lugar: Nazarín, de Luis Buñuel (1959)
O filme contando a história de um padre que se dá mal por fazer o bem é ambíguo a ponto de ter sido indicado pelo Vaticano como um dos melhores da história na categoria “religião” – mesmo sendo o diretor virulentamente anticlerical.
Quinto lugar: Os brutos também amam, de George Stevens (1953)
Shane, vivido magistralmente por Alan Ladd, teria um futuro tranquilo pela frente, se quisesse. O motivo pelo qual ele recusa esta bonança é que faz a diferença. Com uma fotografia belíssima, um vilão assustador (vivido por Jack Palance) e uma extraordinária história mais insinuada do que contada, “Os brutos também amam” é, provavelmente, o mais perfeito de todos os westerns.
Quarto lugar: Ordet, de Carl Dreyer (1955)
Rapaz fica aparentemente louco e começa a falar como um profeta. Sua irmã fica doente e ele reclama da falta de fé das pessoas. Os atores ficam estáticos na maior parte do tempo, e o clima do filme é tenso e estranho. Mas Ordet é um filme milagroso – e nem precisa ser cristão para achar isto.
Terceiro lugar: Persona, de Ingmar Bergman (1966)
Liv Ulmann faz grande atriz que perde a fala, enquanto Bibi Andersson faz o papel da enfermeira que tenta, sem sucesso, ajudá-la. Entre os temas abordados pelo filme estão o abandono, a troca de personalidade, a frieza e a afetividade. É difícil escolher o melhor entre os filmes de Ingmar Bergman, mas a partir da impressionante – e quase surrealista – cena inicial, tudo em Persona é assombroso. A escolha é insegura, mas, provavelmente, este é o ápice da carreira do grande diretor sueco.
Segundo lugar: Limite, de Mário Peixoto (1931)
Com Limite, Mário Peixoto quis fazer uma fábula sobre as limitações e impotências do ser humano, mas não conseguiu: o filme é tão belo e bem bolado que mais deslumbra do que desconforta o espectador. Mario Peixoto o dirigiu quando tinha apenas 21 anos e morreu em 1992, com 84 anos, sem conseguir realizar mais nenhum filme. Se por um lado é triste pensar no que o cinema perdeu com esta falta de produção posterior, por outro isto tornou “Limite” mais lendário.
Primeiro lugar: O Evangelho Segundo Mateus, de Pier Paolo Pasolini (1964)
É assombrosa a versão praticamente literal do Evangelho segundo Mateus feita por Pasolini, com atores semiamadores.
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