Meu sogro tinha um pai ateu e comunista, mas se converteu ao catolicismo – influenciado pela leitura de São Tomás de Aquino – aos dezessete anos, acho. Ele ia assistir às missas todos os domingos na Igreja do Bom Jesus, às onze da manhã. Ficava de pé durante toda a cerimônia, lá atrás dos últimos bancos. Não lembro bem se era para dar lugar para as outras pessoas ou porque achava que era melhor assim mesmo. Afinal de contas, viveu mais de noventa anos, fazendo exercícios e yoga todas as manhãs; quem sabe ele pensasse que ficar de pé o ajudava fisicamente.
Ele sempre falava da Encíclica Rerum Novarum, de Leão XIII, que foi a primeira na história da Igreja a mostrar preocupação com as condições dos trabalhadores durante a Revolução Industrial. Meu sogro tinha uma edição da encíclica, e eu a herdei e fiquei com ela muitos anos, mas nunca a li. Eu achava que estava aqui em casa ainda, mas não a achei. Quem sabe a encontre um dia.
Antes da eleição do Papa Leão XIV, eu e a Valéria discutimos sobre qual seria o nome do novo pontífice: ela disse que, se pudesse ser papa, escolheria o nome de Leão, ou Leoa, não lembro bem. Na hora, como sempre acontecia quando ouvia comentários sobre o Papa Leão XIII, me lembrei do meu sogro e da sua edição da Rerum Novarum.
Quando foi anunciado que o nome do novo papa seria Leão XIV, obviamente me lembrei do meu sogro, e fiquei muito feliz pela lembrança dele – e, claro, com muita saudade daquele senhor com quem eu convivi tanto, e que era, assim como a minha mãe, muito intempestivo e muito bondoso – e, também como a minha mãe, bem mais bondoso que intempestivo, diga-se.
E fiquei feliz por ser a pessoa na família que herdou o costume de ir à missa todos os domingos no Bom Jesus. Mas eu não só não fico de pé nas horas em que posso me sentar, como fico em algum banco bem perto do altar. Ao contrário do meu sogro, não gosto muito de fazer exercícios.
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