“Antologia Poética”, de Anna Akhmátova
Literatura

“Antologia Poética”, de Anna Akhmátova

13 de janeiro de 2019 0

A poetisa russa Anna Akhmátova nasceu num subúrbio de Odessa, em 1889, e faleceu em 1966, em Moscou. Morou a vida toda na Rússia, e era considerada uma das melhores e mais populares poetisas do país.

São informações simples, mas impressionantes: sim, ela passou pela Revolução de fevereiro de 1917, pela de outubro do mesmo ano, pelo Grande Terror (1936-1938) do governo Stálin (que foi de 1924 a 1953), pelo processo de “desestalinização” de Khrushchov (cujo governo foi de 1953 a 1964) e, finalmente, pelo início do governo de Leonid Brejnev (1964-1982).

Assim como tantos artistas de primeiro time, Anna Akhmatóva sofreu muito nas mãos de Stálin: seu primeiro marido foi fuzilado, seu terceiro marido morreu num campo de concentração, e seu filho foi preso. Mesmo assim, como comentamos antes, ela nunca saiu da Rússia – mais do que isso, ela nunca quis sair da Rússia: inclusive, em muitas de suas poesias, ela se queixa de outros poetas que não quiseram permanecer no país.

Esta “Antologia Poética”, publicada pela L&PM (208 páginas), cuja seleção de poemas ficou a cargo de Lauro Machado Coelho, apresenta poesias selecionadas de Anna Akhmatóva em ordem cronológica – o que ajuda o leitor a acompanhar a evolução da poetisa – e com notas que situam os poemas no contexto histórico da época. Sua obra é frequentemente melancólica, raramente irada, e quase sempre belíssima – como no exemplo abaixo, retirado do livro “Revoada Branca”. Segundo Lauro Machado Coelho, o poema fala do “momento em que Anna se preparava para se afastar definitivamente de [seu amigo] Borís Anrep, que ia emigrar” – ela, como vimos, jamais emigrou.

“Não somos bons de despedidas. / Passeamos lado a lado, os ombros tocando-se. / Já está começando a escurecer. / Estás pensativo, eu não digo nada. // Entramos nesta igreja para ver / alguém sendo enterrado, batizado, se casando; / depois vamos embora, sem olhar um para o outro. / Por que é que para nós nada dá certo? // Vamos sentar na neve pisoteada / do cemitério, suspirando de leve. / Com a ponta da bengala, traçarás palácios / em que viveremos felizes para sempre.”

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