Uma ponte para Terebin, de Letícia Wierzchowski (Record, 444 páginas), é uma biografia romanceada do polonês Jan Wierzchowski, avô da autora. A história atribulada da vida dele realmente vale um livro.
Aos quatorze anos ele foge de sua cidade natal, Terebin, e vai tentar a sorte em Varsóvia. Jan foi praticamente sem dinheiro, mas “o simples fato de haver chegado” na capital polonesa, “onde ele jamais pusera os pés antes, era, em si, um motivo de contentamento, e um final feliz”. Mal chegando lá, num incrível golpe de sorte, ele trava contato um engenheiro polonês (cujo nome Letícia jamais conseguiu descobrir) que resolve lhe dar abrigo, o emprega como pedreiro e ainda custeia seus estudos (ele chegou a completar o curso técnico de construção civil). Depois disso Jan, que tinha fugido de casa sem avisar, faz as pazes com os pais e passa temporadas morando alternadamente na capital polonesa e em Terebin (além de ter estudado na Alemanha por alguns meses). E é em sua cidade natal que Jan se apaixona e começa a namorar sua prima Feliska, a qual viria a ser sua primeira mulher. Já depois de casada ela cai num lago gelado e fica muito tempo lá até ser socorrida, num acidente que viria a prejudicar sua saúde seriamente pelo restante de sua (curta) vida.
O avô de Letícia Wierzchowski definitivamente não tinha medo de mudanças: com poucos anos de casado ele sai da Polônia e emigra para o Brasil. Aqui no país ele se estabelece em Porto Alegre e começa a trabalhar com construção civil. Não muito tempo depois, a frágil Feliska acaba falecendo. Jan, que tinha uma compleição física e modos que sempre agradaram às mulheres, logo casa com Anna, uma polonesa que estava estabelecida há bastante tempo no país e que falava bem o português (e que também viria a ser a avó da autora de Uma ponte para Terebin). O casal tem um filho, Janecke, e logo a Segunda Guerra Mundial eclode na Europa. Nova mudança na vida de Jan Wierzchowski: para angústia de sua mulher, ele não resiste ao chamado da consciência e vai até a Europa servir como voluntário contra os nazistas – e lá ele sente na pele os horrores da guerra. Mas o avô da autora sobrevive e acaba conseguindo viver os últimos anos de sua vida tranqüilamente em Porto Alegre com a mulher e os filhos.
O romance é de leitura agradável, embora repetitivo e sentimental além da conta em alguns trechos. Mas o mais importante é que ele é uma espécie de painel de uma época: a história do avô de Letícia Wierzchowski é também um pouco a história de tantos milhares de imigrantes que o Brasil recebeu nos século XIX e início do século XX; e a trágica história da família que Jan deixou na Polônia é um pouco a história do enorme sofrimento do povo polonês durante o século XX.
(texto publicado no suplemento dominical do jornal O Estado do Paraná em 2006)
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