“Os Livros da Selva”, de Rudyard Kipling
Literatura

“Os Livros da Selva”, de Rudyard Kipling

9 de maio de 2017 0

Eu não assisti ao desenho “Mowgli – O Menino Lobo”, de Walt Disney, o que acabou sendo bom na leitura dos contos de “Os Livros da Selva” (Penguin – Companhia das Letras, 560 páginas), de Rudyard Kipling (1865-1936), autor agraciado com o Prêmio Nobel de 1907. Explico: enquanto eu lia as estranhas histórias do Menino Lobo, cheias de violência e jogos de poder, eu ficava me perguntando: “mas como é que Walt Disney transformou este negócio aqui em uma história para crianças? ”.

Para o leitor desavisado de hoje em dia (eu, por exemplo), “Os Livros da Selva” é um espanto: sim, Mowgli é um menino que é criado por lobos e acaba como chefe da selva. Mas não há basicamente nada bonitinho como “amor à natureza” ou “o bom selvagem” no livro: em um conto, Mowgli é expulso da alcateia onde vive e se une com seus amigos (bichos) para tomar o poder; em outro, são os humanos da aldeia onde ele nasceu que o expulsam; em outro, ele pede para elefantes amigos arrasarem outra aldeia de humanos; em uma guerra com hienas, Mowgli se une a uma cobra e a sua alcateia para vencê-las com a ajuda de abelhas africanas (que não eram unidas com nenhuma das partes envolvidas, mas picavam de morte quem passava por ali). “Os Livros da Selva” ainda têm histórias em que Mowgli não aparece, como uma de um crocodilo que basicamente se alimenta de cadáveres humanos, e outra, muito bonita, sobre esquimós que tentam escapar da fome procurando comida Polo Norte acima.

Existem muitas interpretações sobre os “Livros da Selva” – por exemplo, sobre a relação existente entre o poder de Mowgli sobre a selva com a do poder do Império Britânico sobre a Índia, onde as histórias de “Os Livros da Selva” se passam (Kipling, inclusive, foi e continua sendo muito criticado por seu apoio explícito à colonização britânica). De todo modo, “Os Livros da Selva” (publicado originalmente em 1894) é um livro espetacular, que leva o leitor a um mundo estranho, violento, cheio de regras de conduta (decodificadas na “Lei da Selva”, que todos devem obedecer), em que os animais conversam entre si e com Mowgli – o único humano que entende sua linguagem.

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