“Mrs. Dalloway”, de Virginia Woolf
Literatura

“Mrs. Dalloway”, de Virginia Woolf

8 de maio de 2017 0

Li alguns livros de Virginia Woolf (1882-1941) na adolescência: lembro que gostei muito de “Passeio Ao Farol”, achei “Orlando” muito estranho, entendi muito pouco de “As Ondas” e basicamente nada de “Mrs. Dalloway” (1925) – e é este último que reli recentemente (Coleção Grandes Nomes da Literatura, da Folha de São Paulo, 188 páginas). Obviamente, me senti lendo o romance na primeira vez.

Um dos nomes mais importantes do vanguardismo literário do sec. XX, em “Mrs. Dalloway” Virginia Wolf fez o mesmo que James Joyce no clássico Ulysses (1922), ao situar o intervalo temporal de seu romance em um único dia: nas palavras do crítico literário e colunista Manuel da Costa Pinto, “desde o momento em que” a personagem título Clarissa Dalloway “sai de casa para comprar flores (pois dará uma recepção em casa à noite) até o momento em que acontece a festa”.

Neste dia, Peter Walsh volta para Londres depois de cinco anos nas colônias. Impulsivo e aventureiro, ele era apaixonado por Clarissa e chegou a se declarar para ela no início da idade adulta (eles agora são cinquentões). Ela também gostava muito dele, mas acabou se casando com Richard Dalloway, jovem mais rico, promissor e que, no dia em que o livro se passa, é deputado na Câmara dos Comuns. Por que Clarissa escolheu Dalloway e não Peter Walsh para se casar com ela é um dos temas principais de “Mrs. Dalloway”, e que perpassa boa parte dos pensamentos dos personagens. O fato é que tanto Peter Walsh quanto Sally Seton, ex-melhor amiga de Clarissa e que também volta para Londres por acaso no dia da festa, continuam deslumbrados pelos supostos brilhantismo, bondade e inteligência de Mrs. Dalloway – personagem que, a mim, pareceu apenas uma mulher fútil, fria e interesseira.

Em geral, quando a crítica fala de “Mrs. Dalloway”, os comentários dizem respeito aos desejos reprimidos homossexuais da personagem-título, à escrita fluida e impressionista – às vezes é difícil acompanhar os fluxos de consciência dos diversos personagens -, ao cotidiano elevado ao nível de “grande Arte”, e à outra história do romance, sobre Septimus, jovem bem-sucedido que entra em profunda confusão mental depois de participar da Primeira Guerra Mundial. Concordo com tudo. Mas o brilho de uma escritora que consegue pintar uma personagem fria e calculista de maneira tão sutil que nem os demais personagens (nem boa parte da crítica, eu acrescentaria de maneira insegura) conseguem perceber é o que mais me impressionou nesta obra-prima.

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