Lançado originalmente em 2001, “Plataforma”, do francês Michel Houellebecq (Anagrama, 316 páginas), é um livro difícil de definir. O romance é narrado por Michel, funcionário público solteirão de cerca de 40 anos, que resolve viajar numa excursão francesa até a Tailândia. Parte dos turistas está em casais e parte está sozinho – e são alguns dos homens solitários da excursão, entre os quais o próprio Michel, que têm relações sexuais com prostitutas tailandesas, escandalizando outros integrantes da excursão, notadamente mulheres.
Uma das turistas solitárias, Valérie, se apaixona por Michel; só que ele achava que não tinha qualquer chance com ela: de fato, o caso – idílico – dos dois só começa quando eles estão de volta em Paris. Ela é uma executiva de sucesso da área de turismo e ganha várias vezes mais que ele, que não tem a menor ideia do que fez para conquistar aquela moça tão bonita, amorosa e bem-sucedida.
O fato de ela ter dado em cima descaradamente de Michel na Tailândia e ele, mesmo assim, ter ido procurar prostitutas tailandesas fez com que Valérie lhe perguntasse: “o que nós, mulheres ocidentais, temos de errado que faz com que vocês paguem por sexo com asiáticas? ”. Na conversa que se segue, eles lembram que não só homens ocidentais procuram asiáticas, como muitas mulheres europeias procuram homens negros ou mulatos atrás de sexo, conforme eles tinham percebido em outra viagem que fizeram depois da viagem para a Tailândia. O que estaria acontecendo? Segundo Michel, o sexo entre europeus é muito complicado: as exigências de parte a parte são muito grandes, o dia-a-dia das pessoas costuma ser muito desgastante, de modo que que o desânimo geral dos europeus acabe favorecendo a procura por sexo em terras distantes. Juntando isto com a experiência frustrante que os dois tiveram com animadores de excursão numa viagem a Cuba – quando concluíram que sexo, em geral, é muito mais recompensador para as pessoas do que aprender danças novas, por exemplo -, Michel tem uma ideia: por que Valérie não tenta implementar na rede hoteleira em que ela e seu colega Jean-Yves trabalham programações de cunho eminentemente sexual? Ela gosta da ideia, ajuda a implantar em alguns países o projeto que, de início, é bastante promissor. Embora não dê para contar mais para não estragar a surpresa, dá para adiantar que parte importante da sociedade europeia vai ficar escandalizada com esta exploração sexual em grande escala.
Não dá para saber de que lado Michel Houllebecq fica neste extraordinário romance, se contra ou a favor dos exploradores da prostituição. Com um domínio magistral da escrita, com um enredo instigante que suscita questões incômodas a todo momento, por que diabos o enredo de um ótimo livro como “Plataforma” precisaria tomar algum partido?
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