“A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector
Literatura

“A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector

17 de julho de 2016 0

Na adolescência foi que eu li pela primeira vez o romance “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector (1920-1977). A sensação que tive foi das mais difíceis: para mim foi um livro chocante, o equivalente literário de um soco no estômago. Reli há pouco tempo achando que, com o tempo, a sensação seria atenuada: ledo engando, parece que levei mais um soco (metafórico, claro).

O livro conta a história de uma retirante alagoana, Macabéa, criada pela tia que a maltratava e que vem tentar a sorte no Rio de Janeiro. Apesar de ter estudado muito pouco, consegue um emprego de datilógrafa; graças ao grande número de erros de ortografia e à gordura que passa para os papéis, seu patrão tenta despedi-la – mas não consegue, já que ela lhe pede desculpas pelo aborrecimento causado e ele fica com pena dela. Ela acaba sendo mantida no emprego por mais um tempo.

A ignorância e a ingenuidade de Macabéa são chocantes: seu namorado a humilha sem parar e ela lhe pede desculpas, já que nem percebe a humilhação. Ele a troca por uma amiga dela e a retirante continua com medo de incomodar. Tossindo sem parar, ela vai ao médico, onde é diagnosticado com tuberculose – mas não entende direito o que é isso e não toma os remédios prescritos. Como distrações principais, ela vai ao cinema e ouve uma rádio que apenas transmite as horas e cultura inútil. Só se alimenta de Coca-Cola e cachorro quente. Gostaria – sabe-se lá como – de se ser uma artista de cinema como Marylin Monroe, que idolatrava. Em outras palavras, a retirante não sabe direito o que está fazendo no mundo.

Rodrigo S.M. é o personagem que narra a história: é um senhor de idade avançada, de classe média e que, de maneira meio arrogante, meio emocionada, diz que não sabe direito o que fazer com Macabéa.

Nem nós, Rodrigo. Nem nós.

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