Não costumo colocar músicas no repeat. O culpado disto é o Morrissey: ouvi tanto suas músicas (solo e com os Smiths) que hoje elas já não me fazem mais o mesmo efeito que faziam no início nos anos 90 (eu sei que parece papo de maconheiro velho que diz que a erva de hoje não é tão boa quanto aquela que ele usava na juventude – mas eu sou abstêmio, então este papo é só mais uma piada sem graça).
Dia destes eu estava ouvindo “7 years”, do dinamarquês Lukas Graham, líder da banda que leva o seu nome. Ouvi uma vez. Duas. Três. Acho que na décima meu alerta “anti-repeat” começou a apitar. Alto. Mas eu lutei contra o alerta, e continuei ouvindo “7 years” durante o resto daquele dia. No dia seguinte, comecei a ouvir a música no início da tarde e… fui ouvindo até anoitecer. Acho que no dia subsequente, com medo de uma recaída (e aqui cabe mais uma piada sem graça), fiquei longe da tentação. De todo modo, contei para minha filha sobre a música e fiquei feliz de saber que ela já era fã. Eu disse que estava pensando em escrever um texto sobre “7 years”, ela gostou da ideia e vem me cobrando desde então.
Na verdade, eu conheci inicialmente “7 years” pelo clipe, e é uma coisa estranha: um garoto que parece ter bem menos que seus 26, 27 anos, meio gordinho e de boné para trás, cantando uma música de grande dramaticidade. A imagem “descolada” dele é totalmente descolada (opa, mais uma!) da sonoridade grandiosa e melancólica de “7 years”.
Depois de ler algumas entrevistas com o Lukas Graham, a simpatia pelo sujeito uniu-se à admiração que eu já tinha pela sua obra-prima. Ele cresceu numa quase favela (chamada Christiania) em Copenhague, na Dinamarca, em que os moradores levam um modo de vida alternativo: basicamente, hippies, anarquistas e artistas que se recusam a viver conforme as regras do capitalismo. A coisa lá não parece muito fácil, e Lukas Graham diz que boa parte de seus amigos de infância está na prisão – a carga dramática de “7 years” certamente deve muito a suas experiências de juventude. De todo modo, o cantor parece ter um grande amor pela família, e a letra de “7 years” (que conta passagens da sua infância e adolescência, passando pelo presente e apontando para o futuro) indica isto.
E sim, a letra é tão linda quanto a música.
E espero que você goste do texto, Teresa.
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