“Tartufo”, “Escola de Mulheres”, “O Burguês Fidalgo”, de Molière
Literatura

“Tartufo”, “Escola de Mulheres”, “O Burguês Fidalgo”, de Molière

26 de junho de 2016 0

O fato de eu ter estudado “Le Cid”, de Pierre Corneille (1606-1684), no curso de francês, me fez gostar muito deste dramaturgo clássico do sec. XVIII, e esta admiração se estendeu posteriormente a seu contemporâneo Jean Racine (1639-1699) – ambos eram dramaturgos da corte de Luís XIV. Os dois eram mestres na criação de tragédias, e suas peças tratam dos grandes dramas humanos – honra, amor, paxão, orgulho; seus diálogos em forma de versos são tão bem escritos que sempre tenho vontade de ler aquelas poesias maravilhosas em voz alta.

Por levar tão a sério Corneille e Racine, sempre tendi a menosprezar o outro grande dramaturgo clássico da corte de Luís XIV, Molière (1622-1672, pseudônimo de Jean-Baptiste Poquelin), que era especialista em comédias – na minha opinião, um comediante não poderia ser tão profundo quanto um poeta trágico. Para tirar a cisma, resolvi ler as três peças de uma antiga edição da Editora Abril, “O Tartufo”, “Escola de Mulheres” e “O Burguês Fidalgo” (acho que li uma ou duas delas na adolescência, mas certamente a leitura não me marcou muito).

“Tartufo” é um sujeito que engana um pai de família se dizendo um grande religioso para roubar-lhe as posses. Em “Escola de Mulheres”, Arnolfo é um sujeito que vive debochando de homens traídos, e tem tanto receio de também ser enganado por sua parceira que praticamente prende a moça que irá se casar com ele – com resultados, conforme esperado, que são os piores possíveis. Finalmente, o “burguês fidalgo” é um capitalista rico que tem tanta mania de grandeza que não quer que a filha case com o filho de outro burguês de posses: para ele, apenas um nobre merece sua herdeira.

Além de muito divertidas, estas três peças de Molière mostram com profundidade a vaidade e a fraqueza humanas. O dramaturgo nos faz rir a valer com a mania de grandeza de seus personagens, seja em termos de posição social (“O Burguês Fidalgo”), religiosa (“O Tartufo”) ou sexual (“Escola de Mulheres”).

Ao contrário do que eu pensava, dá sim para ser muito profundo escrevendo comédias. E pelo fato de o dramaturgo ser um observador tão agudo da alma humana, ler em francês, pelo visto, não faz a menor diferença para a leitura de Molière.

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