“História do olho”, de Georges Bataille
Literatura

“História do olho”, de Georges Bataille

15 de março de 2016 0

Georges Bataille lançou seu primeiro romance, “História do Olho”, sob o pseudônimo de “Lord Auch” – e as primeiras edições em que seu nome aparece na capa foram póstumas. Não é para menos: o livro é profundamente obsceno e o funcionário público Georges Bataille se preocupava com sua imagem profissional.

O romance é escrito em primeira pessoa por um adolescente anônimo, e conta as aventuras sexuais dele com Simone, uma espécie de namorada também adolescente. Os dois envolvem outras pessoas em suas aventuras, como Marcela – praticamente uma criança, que os deixa obcecados – e Sir Edmond – um inglês milionário que os acompanha numa viagem à Espanha bancada por ele.

O livro é composto por capítulos curtos, quase como se fossem minicontos. Logo no início da obra, depois de algumas aventuras sexuais entre Simone e o narrador, Marcela se junta aos dois. No capítulo seguinte a orgia envolve os três mais alguns “mocinhos ridículos e tolos”: a coisa é tão intensa que Marcela entra em pânico, se tranca num armário, enlouquece e é internada num hospício. No próximo “miniconto” o narrador foge de casa para morar com Simone (onde mais tarde faria sexo até na frente da mãe dela) e, no subsequente, os dois vão até o hospício onde Marcela está internada e conseguem transar com ela ao ar livre durante uma tempestade. E por aí a coisa vai. Marcela acaba enlouquecendo de vez e se enforca no mesmo armário em que tinha se trancado antes – e os nossos heróis fazem sexo ao lado do cadáver da menina, sobre o qual Simone posteriormente urina. Para “evitar o aborrecimento de um inquérito policial” os dois decidem fugir para a Espanha com o já citado Sir Edmond. Lá os três vão a uma tourada, durante a qual Simone pede os testículos de um touro abatido; posteriormente eles testemunham uma chifrada fatal num toureiro. Finalmente, em uma igreja, Simone seduz um padre e o assassina durante uma orgia sexual.

Nos últimos capítulos do livro Bataille faz uma espécie de comentário sobre a obra: com exceção da morte do toureiro na arena, de fato testemunhada pelo autor, praticamente nada do que tinha sido descrito no livro ocorrera na realidade. Segundo Georges Bataille, o romance era uma espécie de catarse pessoal a respeito do pai, paralítico e que enlouquecera um ano antes da chegada dos alemães na cidade em que a família morava durante a Primeira Guerra Mundial: para piorar as coisas, o escritor e sua mãe tinham abandonado o pai durante a fuga.

Escatológico, “História do olho” é cheio de menções a comida, fezes, urina, sexo e morte. A atmosfera do livro é onírica, como se fosse um sonho violento – ou um pesadelo. Ao mesmo tempo, a frieza do estilo é de um contraste gritante com as loucuras descritas.

Excepcionalmente intenso e original, “História do olho” merece o epíteto de “clássico da literatura” que acabou recebendo ao longo dos anos. Por mais esquisito que realmente seja.

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