Dois romances curtos que li recentemente tratam de um dos assuntos mais caros à literatura, os anos de juventude.
Eu já tinha lido dois romances da trilogia autobiográfica do grande romancista sul-africano J.M.Coetzee (Prêmio Nobel de 2003): enquanto “Infância” é um livro estranho e frio, com o autor contando sua própria história na terceira pessoa, “Verão”, que trata de seus anos de maturidade através de entrevistas fictícias com pessoas que foram importantes na sua vida, é uma obra-prima – um dos melhores romances que já li.
Em “Juventude”, que é o livro que li recentemente, J.M.Coetzee também trata a própria história com frieza, referindo-se a si mesmo na terceira pessoa. O livro conta o período da vida do autor enquanto estudante de matemática na África do Sul (ainda durante o apartheid) e sua ida para Inglaterra, onde trabalhou como especialista em programação de dados. No livro, Coetzee descreve seu desejo de ser poeta, suas ideias sobre a “verdadeira” literatura, e seus complicados relacionamentos com as mulheres.
Pelo estilo empregado, “Infância” e “Juventude” são livros muito parecidos. Entretanto, os temas e as preocupações tratados por Coetzee em “Juventude” acabam fazendo com que este seja muito superior ao outro.
Não tão bom quanto “Verão”, claro, mas quantos livros o são?
Eu nunca tinha lido nenhum livro do grande escritor russo Ivan Turguêniev até “Primeiro amor”. Este romance curto, de fundo autobiográfico, conta a história de Vladímir Petróvitch, rapaz de dezesseis anos, de pais riquíssimos e que se apaixona pela vizinha de 21 anos, de família nobre decadente. Não só ele se apaixona por Zinaida (o nome da moça): ela tem um verdadeiro séquito de cinco ou seis homens que vão quase todos os dias à sua casa fazer-lhe a corte. Não dá para contar a decisão dela para não estragar a surpresa.
Lendo “Primeiro amor” dá para entender por que Henry James era fã de Ivan Turguêniev: assim como nas grandes obras do escritor norte-americano naturalizado britânico, no romance do russo o principal da história é o sugerido, e não o contado. Coisa de mestre.
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