Meus discos preferidos em 2003 – primeira parte
Música

Meus discos preferidos em 2003 – primeira parte

17 de dezembro de 2015 0

1 . My Early Burglary Years – Morrissey

Na verdade, a grande seqüência matadora do álbum (I’d Love To – Girl Least Likely To – I’ve Changed My Plea To Guilty – Michael’s Bones) também é encontrada na reedição do álbum Viva Hate, de 1997 . Mas My Early Burglary Years ainda tem as pérolas Swallow on My Neck, Black-Eyed Susan, Jack The Ripper (ao vivo) e Reader Meet Author. E esta estranha coletânea, com lados B de singles e canções que já tinham saído em álbuns oficiais, ainda tem Boxers, minha música preferida (conforme comentei aqui).


2. Bach: Cantatas, BWV 54-57 – regente: Helmuth Rilling – gravadora: Hanssler Classics

Eu me sinto meio estranho com relação a este disco. Conforme comentei aqui, duas árias da Cantata n.57, Selig ist der Mann, estão acima do sublime. Fora isso, este disco ainda contém a cantata n. 56, Ich will den Kreuzstab gerne tragen, uma das mais melhores de Bach – e nem sou só eu que falo isso. Mas esta gravação da cantata 56 é bastante inferior às outras duas que conheço. Pena. Mas a cada nova audição do cd inteiro descubro algo novo e maravilhoso.


3 . Dr. Dre: The Chronic

É engraçado que eu já era fã de carteirinha de Snoop Doggy Dogg (ver mais detalhes aqui) quando comprei este álbum – mas fiquei com medo de não gostar. Vai que tem Snoop de menos e Dre demais neste disco?, perguntei-me. Que nada. O disco é perfeito. Tem muito Snoop, muito Dr. Dre, muito balanço, muito suíngue – e muita baixaria também. As primeiras oito músicas do álbum são tão espetaculares que fiquei um bom tempo praticamente sem ouvir a segunda metade dele. Mas recentemente isto mudou, e a minha tecla repeat fica horas nas faixas n.14, Stranded on Death Row, e 16, Bitches Ain’t Shit. E eu confesso que nunca ouvi um rap melhor que a faixa 5, Nuthin’ But a “G” Thang, um dueto, quase uma conversa, entre Snoop Doggy Dogg e Dr. Dre.


4 . The Smiths: Louder Than Bombs

Eu tenho esta coletânea, feita originalmente para o mercado americano, em LP (que é duplo) e em cd (simples). Apesar de não ter nenhum sulco desnecessário, como dizia José Augusto Lemos (ver mais detalhes aqui), é no lado B do segundo LP que a coisa pega, na melancólica e belíssima seqüência Stretch Out and Wait, Please Please Please Let Me Get What I Want, This Night Has Opened My Eyes, Unloveable e Asleep. E ainda tem a minha música preferida dos Smiths, Rubber Ring.


5 . Schubert: Sonata for Arpeggione/Schumann: Fantasiestücke, Op.73 – com Martha Argerich ao piano e Mischa Maisky ao cello

Durante muito após de ter comprado este LP, o que fiz há praticamente dez anos, eu só ouvi o lado A, com a sonata Arpeggione de Schubert. De uns tempos para cá só tenho ouvido o lado B, com peças de Schumann. A quantidade de melodias e temas belíssimos dos dois lados do disco é espantosa. Alguns deles grudam na memória durante dias.


6 . Madredeus: O Paraíso

Se este disco tivesse apenas as canções Coisas Pequenas e Muito Distante, ele certamente estaria nesta relação. Elas representam o ápice artístico da vocalista Teresa Salgueiro, jamais igualado, antes ou depois daqui. Mas O Paraíso ainda tem outras pérolas, como Haja O Que Houver e Andorinha da Primavera (mais comentários sobre os Madredeus podem ser encontrados aqui).


7 . Robert Johnson: The Complete Works

Uma edição de luxo, grande (a capa acima, obtida do site Amazon, como quase todas as demais aqui, está deformada para ela que ficasse no tamanho padrão de uma embalagem de cd) para celebrar o maior bluesman de todos os tempos. Um cantor que era virtuoso mas que jamais deixou que a técnica suplantasse a expressividade. Que conseguia ser dramático, ou irônico, ou uma mistura dos dois conforme o caso. Que, mesmo antes de ser reconhecido como grande cantor de blues, já tinha suas letras estudadas em universidades (ver o exemplo de uma letra extraordinária aqui). Sabemos de de tudo isso a partir de umas gravações precárias, feitas num quarto de hotel, na segunda metade da década de 1930. Só ele e seu violão. Diziam que ele tinha um pacto com o diabo. Quem, a essa altura, se preocupa com isso?


8 . Schubert: Die schöne Müllerin – com Peter Schreier, tenor, e András Schiff, piano

Uma escolha insegura. O vol. 23 das Coleção Hyperion Schubert Edition, com o tenor Christoph Prégardien cantando os lieder compostos por Schubert em 1816 é quase tão bom quanto este – além do quê, os dois extraordinários tenores são equivalentes (Peter Schreier é mais suave e Prégardien é mais expressivo). Mas as faixas n. 16 (Die liebe Farbe), n.19 (Der Müller und der Bach) e n.20 (Das Baches Wiegenlied) desta série única com 20 lieder me fizeram optar por este aqui. Mas eu ainda vou comprar o Die Schöne Müllerin com Christoph Prégardien.


9 . Egberto Gismonti: A Dança das Cabeças

Apesar de eu ter comentado aqui o lado A, o lado B também é muito bom.


10. System of A Down

Este disco do System of a Down (comento mais sobre a banda aqui) me fez começar a gostar de sons muito pesados – isto depois dos 30 anos. A banda tem uma enorme criatividade e o vocalista é o mais carismático no rock desde Morrissey. Os grandes destaques são a faixa-título, a porrada Chop Suey! e a épica Aerials. Mas todas as faixas do disco são excelentes. Espero que repetidas audições deste disco não me deixem surdo.


11. Brahms: Violin Sonatas – Ilya Kaler ao violino e Alexander Peskanov ao piano

Enquanto ouvia este disco um dia desses, num longo percurso que fiz sozinho pela cidade de carro, me lembrei de Luchino Visconti, que dizia que ler Proust e Thomas Mann equivaliam, para ele, ao uso da heroína. Eu, que nunca usei heroína, não imagino que seus efeitos sejam muito melhores do que ouvir esta maravilha.


12. Morrissey: Your Arsenal

Este disco estaria aqui apenas por razões sentimentais: apesar de ter adquirido praticamente a coleção completa dos Smiths ainda nos anos 80, foi apenas depois de ter comprado este disco, em 1992, que comecei a me tornar o fã do Morrissey que sou até hoje. Mas Your Arsenal não precisa deste tipo de coisa para estar aqui. A cada audição o disco melhora.


13. Purcell: As Oito Suítes para Cravo

Aqui eu escrevi um raro texto realmente confessional, comentando o LP acima. Pouco importam as minhas confissões – o importante é que o disco cintila.


14. Lightnin’ Hopkins: Autobiography in Blues

Na verdade, qualquer um dos discos de Lightnin’ Hopkins que eu conheço poderia estar aqui. Este é uma coletânea preparada por Mac McCormick, que escolheu blues autobiográficos do grande bluesman texano. Apenas uma audição de Trouble in Mind, Mama and Papa Hopkins, That Gambling Life, In the Evening, When the Saints Go Marching In ou So Long Baby torna qualquer dúvida com relação à escolha deste disco um assunto totalmente secundário.


15. Frank Sinatra: In The Wee Small Hours

É interessante que nesta página eu tinha escrito que preferia o Frank Sinatra mais antigo, da gravadora Columbia, ao mais prestigiado e recente Sinatra da Capitol.
Entretanto, novas audições mostraram que eu não estava tão certo assim. Este disco, com 16 canções melancólicas – Frank Sinatra foi uma espécie de criador do álbum “conceitual” – é muito mais expressivo e pungente do que aqueles da fase da Columbia.
Acho que estou ficando velho.

(texto escrito em 2003)

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