Eminem
Música

Eminem

10 de dezembro de 2015 0

Eminem é possivelmente o melhor, o mais talentoso e o mais bem sucedido rapper branco de todos os tempos (a briga com os Beastie Boys é acirrada, mas o meu voto vai para Eminem). Ele canta os raps com uma dedicação extrema, sua voz passa sinceridade e por último, mas não menos importante, seus discos são produzidos por um gênio, o cara que descobriu Snoop Dogg e que tem mais suíngue que Prince e James Brown juntos: Dr. Dre. Quem já ouviu um disco produzido por Dr. Dre sabe do que estou falando: estes discos são uma festa de ritmos, balanços e suíngues simplesmente inacreditável. Não dá pra entender por que a crítica brasileira fala tão pouco dele.

Se você não entende inglês ou, como eu, não se interessa muito por letras de uma maneira geral, o Eminem é um cara sensacional para alguém se iniciar no maravilhoso mundo dos bons raps (mas para isto, falando francamente, Snoop Dogg tem mais suíngue que ele, é mais gostoso de ouvir, tem uma voz mais original).

Até aqui tudo ok. Daqui por diante a porca torce o rabo – se você entende inglês, a coisa fica esquisita mesmo.

Eminem teve uma infância difícil: o pai abandonou a família, a mãe bebia e batia nele, repetia de ano, mudava de casa (e muitas vezes de cidade e estado) de três em três meses, apanhava dos alunos mais velhos na escola. Com doze anos acabou se fixando em Detroit. Em 1997 ele lançou seu primeiro cd, Infinite, pela gravadora independente FBT. O álbum foi um fracasso de vendas, e ele não tinha dinheiro para pagar aluguel: despejado, sua mulher o abandou levando junto aquela que é, aparentemente, o grande amor de sua vida: sua filha Hailie Jade Scott, atualmente com seis anos, a quem Eminem dedicou seu “The Slim Shady LP”. Sua mulher também é responsável por outro episódio tempestuoso na vida do rapper: ao vê-la aos beijos com outro homem num estacionamento de uma boate, Eminem agrediu o sujeito e está sendo processado até hoje.

Apesar do fracasso de Infinite, Dr. Dre o chamou para uma conversa e acabou produzindo o segundo cd de Eminem: “The Slim Shady LP”, de 1999, que vendeu 3 milhões de cópias e chegou ao segundo posto da parada americana. Seu cd mais recente, “The Marshall Matters LP”, vendeu 5 milhões de cópias e estreou em primeiro lugar na parada americana. Hoje Eminem é o rapper de maior sucesso no mundo, respeitado pelo universo negro do rap e admirado por grande parte da crítica, por causa da inteligência e sinceridade de suas letras. Eminem, cujo nome de batismo é Marshall Matters, tem um alter ego chamado Slim Shady, a quem o rapper responsabiliza pelas barbaridades que costuma declarar em seus raps.

Chegamos no ponto.

O problema com Eminem é que a maioria das letras dele, politicamente incorretas ao extremo, realmente assustam, o que faz o rapper ser odiado por gays e politicamente corretos em geral. Ele também, em seus raps, costuma tentar se vingar de todos os desafetos.

“Bonnie and Clyde `97” e “Kim”, por exemplo, descrevem o assassinato de sua própria esposa, Kim, pega na cama com outro cara. O mesmo tema volta em “Guilty Conscience”.

Eminem também tem problemas com sua mãe, que já o processou por letras como “Criminal”, onde ele fala o seguinte: “your mother did drugs,hard liquor, cigarettes, and speed / the baby came out disfigured ligaments and knees / it was a seed who would grow up just as crazy as she / dont dare make fun of that baby cuz that baby was me / im a CRIMINAL, an animal caged but turned crazed / but how the fuck you supposed to grow up when you werent raised?” (“sua mãe usava drogas, bebidas fortes, cigarros e speed / o bebê nasceu com joelhos e ligamentos desfigurados / ele foi criado para crescer tão louco quanto ela / não ouse rir deste bebê por que este bebê era eu / mas de que maneira de merda você acha que você vai crescer quando ninguém te criou?”). Em “My name is” ele diz que descobriu que sua mãe se droga mais que ele. Em “Drug Ballad” ele descreve numa linguagem extremamente crua suas experiências com drogas como maconha, ecstasy e cola de sapateiro.

O seu lado mórbido aparece em “Cum on everybody” ele diz que sua “cor favorita é vermelha, como o sangue jorrado por Kurt Cobain quando cometeu suicídio”. Este seu lado surge também, por exemplo, em “I`m Shady” (“eu não quero ter uma morte normal, mas quero ser assassinado duas vezes”) e “Cum on everybody” (“eu já tentei suicídio uma vez e vou tentar de novo / por isto crio músicas onde morro no final”).

O seu lado mais agressivo é mostrado, por exemplo, em “The Way I Am”, aonde ele diz que não é simpático, que o sucesso às vezes o deixa doente e que se algum fã o vir cuidando de sua filhinha, por favor não vá falar com ele. Pois este é “o jeito” dele ser.

Eminem, para desespero dos politicamente corretos, também odeia gays (por exemplo, na música “Marshall Matters” ele diz “Eu vou lutar com vocês e bater em vocês, viados de merda”) e trata desrespeitosamente as mulheres (na mesma letra: “é por que vocês me amam, que vocês esperam tanto de mim / pequenas groupies putas, / saiam de perto de mim / vão f*** o Puffy (Dad)”). Também em “Marshall Matters”, ele fala coisas horríveis de seus parentes (“a cada milhão que eu ganho, outro parente me processa”, e que com o sucesso ele agora tem “90 primos”), dos boys groups como Backstreet Boys (“boys groups me deixam doente”), chama a Britney Spears de retardada e finaliza dizendo que ele, Marshall Matters, “é apenas um cara normal”, e que “não entende todo o barulho” em torno dele…

Mas nem tudo é violência e terror em Eminem! Ele tem um senso de humor todo especial! Em “If I Had” ele diz que se tivesse uma varinha mágica ele faria que o mundo todo chupasse seu p*** sem camisinha e em “My name is” ele diz que está tentando manter a cabeça boa, mas não consegue descobrir qual das Spice Girls ele quer engravidar. Nesta canção ele também diz: “estou indo ou voltando/ é difícil decidir / eu acabei de tomar minha quinta vodca – você pode dirigir pra mim? / Em toda a minha vida eu fui muito privado das coisas / eu não tive uma mulher em anos / as palmas das minhas mãos eram muito cabeludas para esconder”.

Agora a porca torce o rabo de novo. Pode-se falar as piores coisas a respeito das letras de Eminem, mas é indiscutível que elas são originais, inteligentes e instigantes. Ele fala um monte de coisas horríveis com humor, e freqüentemente de maneira totalmente inesperada. As imagens e situações que ele cria são muitas vezes interessantíssimas, e se não levarmos o cara tão a sério, podemos dar boas risadas com suas letras. Ele mesmo, em sua extraordinária “Stan” diz para um fã alucinado e suicida: “Mas que merda é esta que você disse a respeito de cortar seus pulsos também? O que eu disse (sobre este assunto) foi só na base da brincadeira”. Nesta letra ele dá uns conselhos mais do que sensatos para seu fã alucinado, veja só que coisa, como tratar bem sua namorada grávida, e ir se tratar para não causar mal a ninguém, nem a ele nem a ela (não dá certo, o conselho do Eminem para o fã chega tarde demais, o final é de arrepiar).

E Eminem parece ser um pai excelente, além de tudo (o que me faz amar o final de “Bonnie and Clyde`97”, onde ele declara seu amor incondicional pela filha).

Sincero, brincalhão, inteligente, intenso, contraditório, com letras instigantes e inteligentes e um ritmo e um balanço nota 10, thanks Dr. Dre. Precisa mais? Bem, Eminem, você venceu (não é à toa que Johnny Rotten, Paul McCartney e o gay assumido Elton John gostam dele).

Quando eu me assusto com as barbarides que ele costuma falar em suas letras, me tranqüilizo pensando nos versos de “Real Slim Shady” (na verdade, nem me assusto tanto, pois se nem em português me ligo muito em letras, o que dirá em inglês):

“Cause I’m only giving you / things you joke about with your friends inside your living room / The only difference is I got the balls to say it in front of ya’ll”

“Por que eu apenas estou dando para vocês / coisas que vocês brincam com seus amigos dentro dos seus quartos / a única diferença é que tenho culhões pra falar na frente de todos”

(texto escrito em 2001)

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