Foi mágico o show da banda carioca Los Hermanos, realizado na noite de 14 para 15 de junho no Cine Música Bar, em Curitiba. A prova maior disto não foi nem a reação extasiada da plateia, nem a seção de autógrafos (os meus eu pedi para a minha filha) com os simpaticíssimos músicos realizada uns vinte minutos após o término, nem mesmo os comentários do guitarrista-baixista Rodrigo Amarante, compositor e cantor da banda junto com Marcelo Camelo, que durante o espetáculo agradeceu a plateia diversas vezes, dizendo coisas como “jamais esperaria uma recepção assim no início da nossa turnê” ou “obrigado a todos vocês – nós voltaremos ainda nesta turnê”. Na verdade, eu só tive a plena certeza de que o show de Curitiba foi mágico também para a banda quando vi a reação dos músicos no final: eles se abraçavam emocionados como se fossem jogadores de futebol que tivessem vencido um jogo importante. Eu só lembro de ter visto reações semelhantes no esporte ou em solenidades de entrega de prêmios. Aquilo foi tão inesperado quanto recompensador para nós, da plateia – naquele momento soubemos que devolvemos à banda um pouco da enorme alegria que eles tinham nos dado durante o show.
O Cine Música Bar é um local de tamanho mediano para shows, com compridos corredores, teto baixo e acústica excelente. Ele abrigava anteriormente um cinema, e é situado na frente do Passeio Público (espécie de zoológico central, muito bonito por sinal), numa região que era extremamente perigosa até uns cinco anos mais ou menos, quando se iniciou o policiamento intensivo nas redondezas.
A banda de abertura foi a curitibana Vadeco e os Astronautas, uma agradável surpresa: sem bateria, mas com uma percussão formada basicamente por um surdo e um pandeiro, a banda tem um estilo um tanto indefinível, um ótimo vocalista e algumas músicas excelentes. É pena que o estranho e extravagante visual dos integrantes (por que diabos tantos curitibanos da área artística usam chapéus berrantes acompanhados de óculos escuros?) não combinasse em absoluto com o tom sério das músicas. Acreditem, fica estranho.
O show do Los Hermanos acabou sendo bastante superior àquele que eu tinha comentado favoravelmente aqui. Com o setlist formado em grande parte pelo mais recente cd, Ventura (que eu comprara havia poucos dias e que ainda não tinha achado excepcional), a banda fez um show belíssimo. Ao contrário do que normalmente acontece, as melhores canções foram aquelas que eu menos conhecia – uma verdadeira descoberta. Músicas como Cara Estranho, Tá Bom, A Outra, De Onde Vem A Calma, Do Lado De Dentro e Deixa O Verão já são clássicos absolutos, não tenham dúvida disto. E é claro que também foi muito bom cantar junto as canções do álbum anterior, O Bloco do Eu Sozinho, melhores ainda do que no show anterior – a ótima acústica do local ajudou, claro, mas não foi só isto: a banda parece mais segura agora, e todos, de certa forma, têm ainda mais certeza da grandeza do Los Hermanos. O grupo tem um enorme domínio do palco: a postura tranquila de Camelo, a engraçada teatralidade de Amarante e a impassividade de Medina formam um todo absolutamente carismático.
Quem resumiu bem a noite foi um rapaz que assistiu ao show do meu lado, enquanto ouvia embasbacado pela primeira vez uma música de Ventura: “eu não acredito nesta banda”. Eu não poderia ter me expressado melhor.
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There are 2 comments
Que legal reler isso depois de tanto tempo!
Lembro que falamos bastante sobre música.
Lembro que falei essa frase após ouvir ” Conversa de botas batidas”.
Passados tantos anos, continuo não acreditando nessa banda
ABS professor
Yorram
que legal, um abraço!