O britânico Ian McEwan é um escritor espetacular: seu romance “Sábado” – que conta a história de um dia cheio de acontecimentos dramáticos na vida de um neurocirurgião – me impressionou tanto que na única tentativa que fiz até hoje de escrever um romance (do qual desisti, simplesmente porque não era bom) tentei emular o seu estilo; “Reparação” é um livro de grande qualidade dramática, que serviu como base para o filme “Desejo e Reparação”, com James McAvoy e Keira Knightley; “Solar”, sobre um Prêmio Nobel de Física que só quer saber de pegar mulher, é divertidíssimo.
O mais recente livro dele que li, a novela (ou romance curto) “Na praia” (de 2007), conta a história da lua de mel da violinista erudita Florence com Edward, um rapaz formado em história. Ela é de família rica e consegue que o noivo vá trabalhar nas empresas do pai dela. Ele é de família de classe média quase baixa: o pai é professor e a mãe tornou-se deficiente mental depois de um acidente. Conforme comenta João Pereira Coutinho na sua brilhante crítica sobre a novela na Folha de São Paulo, os acontecimentos de “Na Praia” se passam no ano de 1962, enquanto que a revolução sexual (segundo Philip Larkin) começaria em 1963. Deste modo, Florence e Edward sofrem todas as consequências da repressão sexual pré-anos 60: a primeira noite da lua de mel traz uma forte carga de insegurança e medo causados pela ignorância sobre o sexo.
Como se espera de um grande novelista, Ian McEwan vai muito além de simplesmente focar sua história no lado sociológico da coisa: a repressão sexual, em “Na praia”, não passa de um pano de fundo para uma história de forte dramaticidade e grande profundidade psicológica. Infelizmente, não dá para comentar sobre as grandes escolhas que os dois tomaram na primeira noite de sua lua de mel – com suas consequências e uma análise decorrente do caráter dos noivos – sem estragar a surpresa.
E tudo isto com o estilo límpido e preciso do Ian McEwan: um escritor britânico espetacular, não custa repetir.
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