“Raga”, de J.M.G. Le Clézio
Literatura

“Raga”, de J.M.G. Le Clézio

25 de julho de 2015 0

Eu queria ler um livro em francês, e na Livraria Curitiba do Shopping Mueller não tinha nenhuma obra da qual eu tivesse ouvido falar. Os preços estavam ótimos, já que a livraria estava querendo acabar com seus estoques em francês, para não colocar nada no lugar – até hoje não se acha nada em francês por lá.

Entre os muitos livros baratos e desconhecidos, Mondo et autres histoires (Mondo e outras histórias) de um tal de J.M.G. Le Clézio era o mais barato de todos. Aí começou o drama.

Explico: nunca compro um livro do qual não tenha ouvido falar antes. O dinheiro estava curto, é verdade, mas não a ponto de comprar um livro só por estar barato. A única vantagem do livro – além da óbvia de ser escrito em francês, para eu treinar e tal – era que a editora era a celebrada Gallimard.

E o drama continuou, sei lá por quanto tempo. Compro ou não compro? NUNCA OUVI FALAR EM LE CLÉZIO! Antes de ser chutado da loja – que já estava fechada – acabei comprando o livro, meio envergonhado por ter ficado tanto tempo na frente dele.

Com a leitura, o drama virou surpresa. E que surpresa. Mondo et autres histoires é formado por contos que contam histórias de crianças. Fugas, aventuras, cenas espetaculares. Finais emocionantes.

Fiquei tão fascinado que entrei em contato com editoras para tentar traduzi-lo. Nem me responderam. Acho que ninguém se animou muito com a possível tradução de um escritor semi-desconhecido feita por um engenheiro com diletantes pendores literários. Tudo bem. O fascínio não passou.

Alguns poucos anos depois, abro a página do uol no escritório e a manchete principal (devia ter feito um print screen, mas enfim) era: “J. M. G. Le Clézioé laureado com o prêmio Nobel de literatura de 2008”. Nobel. Aquele francês semi-desconhecido. Liguei para a Valéria Da Silveira Müller, que sabia da minha obsessão por Mondo e autres histoires: VALÉRIA, O LE CLÉZIO GANHOU O PRÊMIO NOBEL. Lendo os textos dos jornalistas brasileiros depois do prêmio, senti que eu era o único brasileiro fã do cara. Pior ainda foi o grande Gilles Lapouge debochando do lado politicamente correto de Le Clézio no Estadão. Tudo bem, minha alegria era maior que isso.

Sei eu quantos livros do Le Clézio li de lá para cá. Uns 20, talvez? Raga, terminado hoje, é uma série de ensaios sobre o “Continente Invisível”, a Oceania, e mistura fato e ficção, passado e futuro. Não chega perto de seus grandes romances, como Désert, Ourania, Poisson D’Or ou Étoile Errante, mas todo o amor do escritor pelos desassistidos, todo o fascínio por outras culturas, toda a poesia de sua escrita estão lá.

Le Clézio é um gênio, não canso de repetir isso.

(texto escrito em outubro de 2014)

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