Três romances
Literatura

Três romances

12 de julho de 2015 0

O primeiro livro que li do romancista israelense David Grossman  foi o espetacular e longo (650 páginas) “A mulher foge”. Se o título se refere à história da mãe que fugia de casa de medo de receber a notícia de que seu filho tinha morrido na guerra, o que mais chama atenção no romance é o estranho triângulo amoroso (a referida mãe, o marido e um antigo namorado) num Israel permeado por guerras sangrentas. Não me lembro de ter lido um romance em que as amizades – a despeito de tudo – sejam tão fortes e poderosas.

Depois desse começo alvissareiro, tentei o também longo (530 páginas) “Ver: amor”. Começou bem, mas depois de mais de cinquenta páginas descrevendo o caminho do cadáver de um escritor judeu assassinado pelos nazistas nas profundezas do oceano (!), desisti. Linguagem poética tem lá seus limites.

Poucos tempo atrás, tentei David Grossman de novo: “O livro da gramática interior” também é longo (530 páginas) e conta a história de um garoto israelense, Aharon, que no início da adolescência simplesmente para de crescer. As complicadas relações familiares são um dos pontos altos do livro: a mãe de Aharon é rígida a ponto de ser cruel; o pai tinha sido refugiado de guerra e é orgulhoso de sua ignorância; a irmã é compreensiva com Aharon, mas é desajustada e tem vários amigos por correspondência com os quais tenta esquecer seus problemas – o excesso de peso e a crueldade materna. O outro ponto alto do livro é o próprio Aharon: de um garoto feliz – líder entre os amigos por ser extremamente criativo – ele vai ficando cada vez mais amargo à medida que, além de parar de crescer fisicamente, ele parece também se recusar a crescer mentalmente – o que obviamente traz conflitos com seus amigos e sua família. Mas, infelizmente, a elucubração “poética” também aparece em “O livro da gramática interior”: são páginas  e páginas de pensamentos e impressões de Aharon que, mais do que aumentarem a dramaticidade da história, simplesmente parecem não fazer muito sentido. Pelo menos consegui ler “O livro da gramática interior” até o final.

Já “Ronda da Noite”, de Patrick Modiano, tem lá sua cota de elucubração poética, mas que neste caso é importante no desenvolvimento do romance. O livro conta a história de um rapaz de pouco mais de vinte anos que – juntamente com outros membros da escória da sociedade parisiense durante a ocupação alemã na Segunda Guerra – se alia aos nazistas para combater a Resistência Francesa, atuando como agente duplo. Estamos no ambiente familiar dos livros de Modiano (autor sobre o qual já comentei no meu site), que normalmente se passam nesta época sombria. A elucubração a que me referi anteriormente conta as dúvidas – e indiferenças – do personagem principal.

Finalmente, “O amigo de infância de Maigret”, de Georges Simenon (outro autor sobre o qual já comentei no meu site) não tem elucubração poética nenhuma: as histórias policiais do Inspetor Maigret sempre dão o que o leitor espera, ou seja: entretenimento da mais alta qualidade literária.

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