Nick Cave

Duetos com cantores e cantoras
Música
Duetos com cantores e cantoras
13 de agosto de 2023 at 20:01 0
Às vezes existe um charme especial num dueto entre uma cantora e um cantor. Estava pensando em alguns casos aqui, e cito os cinco que eu mais gostei até hoje – e o bom é que todos têm videoclipe, cujos links para o YouTube são apresentados no texto abaixo. Na verdade, só pensei neste texto por causa de dois vídeos maravilhosos do cantor australiano Nick Cave: “Henry Lee”, com a britânica P.J Harvey, e “Where The Wild Roses Grow”, com a também australiana Kylie Minogue. A primeira é famosa no meio da música alternativa (ou indie), e a segunda faz um grande sucesso no meio pop (é a maior vendedora de discos na história da Austrália) – a ponto de terem estranhado como o também alternativo Nick Cave a tenha escolhido para um dueto. Nos clipes, enquanto PJ Harvey troca carinhos com o cantor – os dois vestidos com roupas masculinas a rigor -, Kylie Minogue faz o papel, em boa parte do tempo, de um cadáver na beira do rio. De todo modo, as duas canções são baladas lentas e meio parecidas, com lindas melodias. Quase não consigo assistir a um destes dois vídeos sem assistir ao outro em seguida. Neste Dia dos Pais, cito um dueto que me foi apresentado por minha filha Teresa: “The Water”, com os britânicos Johnny Flynn e Laura Marling. Nenhum dos dois cantores faz grande sucesso por aqui, e Johnny atualmente se concentra mais na carreira de ator. É engraçado que esta linda balada, como “Where The Wild Roses Grow”, citada acima, também fala de um rio. No clipe os dois cantores fazem um duo acústico, acompanhado apenas pelo violão do cantor, num belo e arborizado jardim. Existe uma versão desta música no Spotify com mais instrumentos no arranjo, mas, vai por mim, neste caso a perfeição está na simplicidade. Comentei aqui no site que minha mãe era alma gêmea da Rita Lee, uma cantora que nunca me agradou muito, mas que, para mim, fez o melhor dueto da música brasileira: “Jou Jou Balangandans”, com o meu cantor brasileiro preferido, João Gilberto. O clipe, gravado num teatro num especial da Globo de 1980, é lindo não só pela delicadeza da interpretação dos dois, mas também pelo contraste entre uma Rita Lee feliz e comportada e um João Gilberto que está com a sua expressão de louquinho de sempre. Finalmente, “999”, cantada em espanhol por Selena Gomez e o colombiano Camilo tem um refrão grudento, um ritmo latino levemente dançante, uma letra delicada e um clipe com cores exageradas e artificiais. Eu não podia falar em duetos com cantores e cantoras juntos sem citar Selena Gomez, né? (imagem que acompanha o texto: Nick Cave e PJ Harvey no clipe de “Henry Lee”)
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“A morte de Bunny Munro”, de Nick Cave
Literatura
“A morte de Bunny Munro”, de Nick Cave
9 de maio de 2021 at 17:38 0
Logo no início de A morte de Bunny Munro (Editora Record, 352 páginas), segundo romance do cantor australiano Nick Cave (o primeiro se chama And the ass saw the angel) o protagonista recebe um telefonema de sua mulher, em profunda crise depressiva, enquanto uma prostituta lhe faz sexo oral num hotel - perto de sua casa, onde está Liby, sua mulher, aliás. Bunny Munro não sai correndo para tentar ajudar a mulher, que toma remédios fortíssimos para aplacar seus problemas mentais, mas fica no hotel até o dia seguinte. Liby se suicida na mesma noite. Quando volta para casa, Munro - que é um daqueles vendedores de porta em porta de produtos de beleza femininos - vê sua casa de pernas para o ar, a mulher enforcada e seu filho, sem assistência nenhuma, assustado. Os problemas de Bunny Junior, o filho do protagonista, de nove anos, estão apenas começando. Seu pai não tem a menor ideia de como criar o filho. Tenta empurrá-lo para a mãe de Liby, mas esta, numa crueldade injustificável, diz que não pode ficar com o garoto já que este lhe lembra o genro, que ela odeia com todas as suas forças. Então começa o sofrimento do menino - A morte de Bunny Munro se lê com angústia. A única coisa que realmente importa para o vendedor de produtos de beleza é o órgão sexual feminino. Homem atraente e sedutor, ele tenta fazer sexo com grande parte das mulheres que passam pela sua frente - e muitos de seus pensamentos são utilizados em fantasias sexuais com mulheres famosas: ele tem desejos tão explícitos com Kylie Minogue e Avril Lavigne que Nick Cave chega a pedir desculpas para elas no final do livro. Além disso, ele é praticamente alcoólatra, bebendo sem parar. Um homem tão bêbado e obcecado por sexo realmente não está preparado para cuidar de um garoto de nove anos. Bunny Junior tem um problema sério na vista, mas não consegue fazer seu pai ouvi-lo pedir o colírio que pode impedi-lo de ficar cego. Sem ter com quem deixar o garoto, o pai sai pela cidade atrás de clientes e de sexo. O menino, nestas aventuras, fica esquecido dentro do carro. O seu pai fica cada vez mais maluco, e acaba morrendo - como promete o título do livro, aliás (tenho de confessar, com certa vergonha, que às vezes ficava torcendo para o personagem morrer de uma vez, para acabar o sofrimento). O final do livro utiliza o sobrenatural para dar um fio de esperança para o leitor - e Nick Cave faz isso com maestria, o que nem sempre é fácil. A morte de Bunny Munro me lembra dois clássicos da literatura, por dois motivos diferentes. O primeiro é Pelos olhos de Maisie, de Henry James (Companhia das Letras/Penguin), pelo sofrimento atroz que aqueles que deveriam cuidar dos filhos às vezes inflingem nestes. O segundo é O Complexo de Portnoy, de Philip Roth (Companhia das Letras). Tanto o livro do grande escritor judeu americano quanto A morte de Bunny Munro revelam "pensamentos calhordas que os machos têm em relação às fêmeas, mas dificilmente saem falando por aí", no dizer de Thales de Menezes na crítica do livro de Nick Cave (Folha de São Paulo, 28 de agosto de 2010). (texto anteriormente publicado no Mondo Bacana)
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