Muitos anos atrás, soube (acho que no Programa do Jô) que Ariano Suassuna estava escrevendo a grande obra da sua vida. Lendo recentemente na Folha (ver a notícia), descubro que a feitura deste romance monumental já estava durando 33 anos até 2013, e que finalmente, ele tinha concluído o primeiro dos seus sete (!) volumes. Anteontem Suassuana faleceu, e ficamos aqui frustrados por não conhecer a obra completa – que ele devia ter na cabeça, imagino.
Fico aqui pensando o quanto a preguiça deve ter atrapalhado Suassuna. Ou a autocrítica. Ou nenhuma das duas. Vai saber. O certo é que isto me dá alguma melancolia.
Esta melancolia me lembra também, como não poderia deixar de ser para quem me conhece, Mário Peixoto. O diretor de Limite tinha vinte e poucos anos quando concluiu este que é meu filme preferido – e nunca mais filmou nada, até sua morte, já com mais de noventa anos. O que mais ele poderia ter realizado – e não realizou?
Por outro lado, não senti um pingo de melancolia ao voltar, agora há pouco, do show do Caetano Veloso – só alegria.
Importante ressaltar, antes de continuar, que tenho um álbum de fotos na minha página do Facebook somente com músicos, cantores e compositores que admiro – e Caetano não está lá. A rapper americana Kreayshawn está lá, mas Caetano não.
Mesmo assim, não tem como não admirar a coragem deste cantor que, com mais de setenta anos, é acompanhado por uma banda de rock com excelentes jovens músicos e que, durante mais de uma hora, interpretou canções fortes, poderosas, muitas vezes agressivas – e poucos sucessos. Claro que tem umas bobagens aqui e ali, mas a impressão que fica é que Caetano vai até aos limites da sua arte, de suas possibilidades, arriscando e errando.
Mais acertando do que errando, diga-se de passagem.
(texto escrito em julho de 2014)
There are 0 comments