Existe algum interesse para um leitor – que nunca assistiu a nenhum episódio de uma determinada série televisiva – em ler um livro com vários artigos escritos por diferentes pesquisadores, que analisa esta série sob vários pontos de vista filosóficos? Por mais que a princípio a resposta mais óbvia seja não, no caso específico de Buffy – A Caça-Vampiros e a Filosofia, coletânea organizada por James B. South e William Irwin recentemente publicada pela editora Madras (320 páginas), a surpreendente resposta é sim. A leitura pode ser enriquecedora e interessantíssima, inclusive para quem não entende patavina da famosa série Buffy, da Fox. Pelo menos no meu caso funcionou: mesmo sem ter assistido a um minuto sequer do seriado, gostei muitíssimo do livro.
Como em outros livros desta série da editora Madras – o Bacana publicou outras resenhas do aqui e aqui – o seriado é analisado, entre outros, pelo viés feminista, moral, ético e metafísico. É prazeroso ler as diversas teorias que tratam do seriado, mesmo quando elas se contradizem.
Por exemplo, se a grande maioria dos autores presentes no livro louvam a ética da personagem principal, em “Camisas Marrons: Fascismo, Cristianismo e Demônio Eterno”, de Neal King, Buffy e seus companheiros caça-vampiros são vistos como fascistas – não é à toa que este artigo inicia uma parte do livro genialmente batizada de Esse é o Tipo de Pensamento Babaca Que Faz Você Ser Comido. Do mesmo modo, enquanto a maioria dos ensaios louva Buffy como algo profundo e original, “Sentimentos Por Buffy: a Garota Que Mora ao Lado”, de Michael P. Levine e Steven Jay Schneider, defende a tese de que o seriado é pop, superficial, e que deve praticamente todo o seu sucesso ao seu forte conteúdo sexual. Buffy, a personagem, seria a “garota que mora ao lado”, com toda a dose de fetichismo que isto acarreta.
A cada dia me convenço mais que, para o leitor leigo, não há melhor maneira de se inteirar das discussões filosóficas do que lendo os livros da série sobre cultura pop e filosofia da editora Madras (sobre ícones como Buffy, Harry Potter, Simpsons). São profundos, sérios, mas ao mesmo tempo didáticos e interessantes. E neste caso, convenhamos que a atriz que faz Buffy, Sarah Michelle Gellar, é mesmo uma gracinha. Mesmo sem ter visto nenhum episódio da série creio que quem a chamou de “garota que mora ao lado” não estava assim tão errado…
(texto publicado no Mondo Bacana em 25 de abril de 2008)
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