Eu tive uma coluna no site Coxanautas por alguns anos, em meados dos anos 2000. Fuçando meus alfarrábios, achei o texto abaixo, escrito em torno de 2005.
Acho que o Atletiba de 1968 continua sendo o maior de todos os tempos, mas não tenho tanta certeza assim. Mas que ninguém nega que ele foi histórico, acho que ninguém nega.
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Qual foi o maior Atletiba de todos os tempos? Foi aquele realizado na noite fria de 28 de agosto de 1968 (o ano, coincidentemente, em que nasci)?
Provavelmente. Desde criança, escuto meu pai contar a emoção de ter assistido àquele jogo. Ele sempre me fala do frio e da entrada do jogador reserva que marcou o gol de cabeça. Aquela partida foi o início da maior série de vitórias em Campeonatos Paranaenses na história do Glorioso: 1968, 1969, 1971, 1972, 1973, 1974, 1975, 1976, 1978, 1979. Anteontem, Carneiro Neto se referiu àquele jogo na Gazeta do Povo:
“Naquele ano, disputou-se o melhor Campeonato Paranaense de todos os tempos, em pontos corridos e com todos os times muito bem-preparados. O gol do título coxa-branca, marcado por Paulo Vecchio em fria noite na Vila Capanema, entrou para a história pela emoção da histórica conquista no último minuto do clássico.”
Se Carneiro Neto não chega a assegurar que aquele foi o maior Atletiba de todos, poucas dúvidas há – até hoje – de que aquele foi o melhor Campeonato Paranaense da História.
O campeonato começou turbulento: o Atlético, que tinha ficado em último lugar no ano anterior, simplesmente se recusava a ser rebaixado – a lei do acesso e descenso começara a vigorar pouco tempo antes. Começou uma luta de bastidores entre o então presidente atleticano, Jofre Cabral, e o presidente da Federação Paranaense de Futebol, José Milani. Como forma de fazer pressão, o presidente rubro-negro contratou grandes jogadores: Bellini (ex-campeão mundial de futebol), Dorval (ex-companheiro do Santos de Pelé), o goleiro Muca e os grandes jogadores Zé Roberto e Nilson Borges.
Tanto se fez que se conseguiu que tanto Atlético quanto Paranavaí – primeiro colocado da divisão de acesso, na época chamada Primeira Divisão (enquanto os principais clubes formavam a Divisão Especial) – tivessem vaga garantida no Campeonato Paranaense de 1968. (Além disso, mais um outro clube foi convidado: o vencedor de um torneio entre os participantes da divisão de acesso.) Toda essa movimentação fez com que o campeonato pegasse fogo.
Segundo as palavras do Professor Francisco Genaro Cardoso, em seu “História do Futebol Paranaense” (Federação Paranaense de Futebol. Curitiba, 1978):
“Nunca se viu tantas casas em Curitiba ostentando bandeiras e faixas de clubes de futebol, com predominância de atleticanas e coritibanas. (…) Nunca se viu tanto ardor, tanto fanatismo por parte dos torcedores de ambas as agremiações. Nos cinco jogos em que os rivais fizeram durante o ano, as rendas foram recordes. A nota triste do campeonato foi a morte do presidente atleticano, Jofre Cabral, em 2 de junho daquele mesmo ano.
“Voltando ao futebol: na última rodada do campeonato, o Coritiba precisava de um ponto contra o Ferroviário para levar a final para uma série de três partidas com o Atlético – e este ponto só foi conseguido nos momentos finais de um emocionante jogo num Alto da Glória superlotado: 2 a 2.”
Conforme contam Vinícius Coelho e Carneiro Neto em seu “O Campeoníssimo” (Coração Brasil Editora. Curitiba, 2003):
“Como havia perdido em casa para o Furacão, 15 dias antes, em disputa pela vaga do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (…), o Coritiba sabia das dificuldades que teria na decisão do campeonato. No primeiro jogo, 2 a 1 para o Coritiba no então estádio Belfort Duarte – atual Couto Pereira. Ao Coritiba bastava o empate no jogo seguinte, no Estádio Durival de Britto, na quarta-feira, evitando assim o terceiro jogo. Acho que será mais interessante para o leitor se forem simplesmente reproduzidas as palavras de Francisco Genaro Cardoso sobre aquele que, possivelmente, tenha sido o maior atletiba da História:
“Constituiu-se no mais espetacular ‘Cotejo da Rivalidade’ dos últimos 20 anos. Durante 90 minutos, o Atlético vencia por 1 a 0. Estava-se nos descontos. O ‘povão’ rubro-negro já começava a comemorar a vitória e renasciam as esperanças de que em nova peleja, seria campeão. Que barulho sua torcida fazia. Já decorriam 30 segundos além do tempo regulamentar. Falta na intermediária rubro-negra. Pelo lado esquerdo. Cobrança pelo lateral esquerdo do Coritiba: Nilo. Nove jogadores coritibanos na área rubro-negra contra onze. Arnaldo César Coelho, carioca, o árbitro. Mais de 25.000 espectadores em suspense. Jogo noturno. Silêncio absoluto no Estádio. Era a derradeira oportunidade do Coritiba empatar. Cigarros não fumados. Mascados. Dentes cerrando dentes. Dentes comendo unhas. Torcidas estáticas. Um minuto além do tempo. No gramado, um empurra-empurra entre jogadores dentro da área penal, com que os atleticanos esperavam retardar a cobrança e ouvir o apito final. Arnaldo César Coelho, com muito custo, colocava a casa em ordem. Adverte, ameaça. Procura ângulo melhor para controlar a área. Vem o apito para a cobrança de falta. Nilo levanta a pelota para a frente do arco. Gil, o goleiro, salta. Saltam vários jogadores. Um bouquet humano, branco, verde, vermelho e preto. O mais feliz foi o comprido meia-cancha coritibano, Paulo Vecchio. Era o gol de empate e o título de 1968.”
(Imagem que acompanha o texto obtida no Gemini.
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