A famosa frase de Friederich Nietzsche (1844-1900) segundo a qual “Deus morreu” é proferida logo no início de “Assim falava Zaratustra” (Nova Fronteira, 352 páginas). A “morte de Deus” é um dos temas basilares do clássico do filósofo alemão – os outros seriam a vinda do super-homem (que é a superação do homem tal qual conhecemos), a tese do eterno retorno (segundo a qual tudo o que acontece hoje já aconteceu no passado e continuará se repetindo no futuro), a crítica da moral racionalista e cristã e a “vontade de poder” (fundamento de tudo o que é vivo). Esta última é uma ideia perigosa, deturpada pela irmã de Nietzsche para justificar a teoria, errada, de que o filósofo era precursor do nazismo. Segundo o escritor e tradutor Marcelo Backes, “Assim falava Zaratustra” “gira em torno do niilismo e de sua superação, do problema da moral, e identifica filosoficamente a religião como o motor da decadência ocidental”.
Por outro lado, “Assim falava Zaratustra” não é uma obra de “filosofia pura”: o livro conta as andanças de Zaratustra, um sujeito errante que conversava com pessoas nas cidades e nos campos, que morava numa caverna e que tinha os animais selvagens como grandes amigos. Uma espécie de São Francisco ateu, defensor do prazer dos sentidos contra a fé e a razão, que lutava por ser uma ponte entre o homem e o super-homem. É como se Nietzsche tentasse, através de um “sábio eremita” explosivo, destruir todos os “sábios eremitas” que vieram antes dele.
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