O terceiro livro das jornalistas do grupo 02 Neurônio, Jô Hallack, Nina Lemos e Raq Affonso, “Almanaque 02 Neurônio – Manual Para Moças em Fúria” (Editora Record, 144 páginas) é autobiográfico e – forçando um pouco a barra – pode ser visto como um retrato de um certo grupo social. O livro é apresentado na forma de pequenos artigos (muitos anteriormente publicados no site delas), de três ou quatro páginas no máximo. O objetivo delas é fazer rir mas quando se lê o “Manual Para Moças em Fúria” de uma sentada o livro acaba funcionando como se fosse um grande blog – por mais bem escrito e divertido que ele realmente seja.
As três autoras são solteironas convictas, contrárias à “babaquice” de grande parte dos casais de classe média. São freqüentadoras assíduas de festas noturnas (as “baladas”), se acalmam quando fazem compras, estão muitas vezes às voltas com problemas de dinheiro, não têm paciência com reuniões de condomínio, querem que seus filhos cresçam vendo gays se beijando. Mas o que realmente interessa a elas são os pretês (neologismo criado pelas próprias, que significa “aquele” rapaz que elas estão paquerando). Elas analisam com profundidade qual deles vale a pena, qual não vale, quando eles ligam ou não no dia seguinte, qual é o pretê burguês disfarçado, qual vale R$1,99 e assim por diante.
O maior segredo do 02 Neurônio é a despretensão e a auto-ironia: elas definitivamente não fazem o papel de mulheres-sofredoras-vítimas-de-uma-cruel-sociedade-machista. Além disso, recusam-se terminantemente a se anular para agradar seus companheiros – conselho muito comum dado por revistas femininas por aí. O tipo de vida que elas escolheram ter, por outro lado, lhes traz um pouco de melancolia às vezes. Mas quem realmente pode dizer que esteja totalmente imune a isso?
Almanaque 02 Neurônio – Manual Para Moças em Fúria é conscientemente despretensioso, quer divertir e atinge plenamente seus objetivos, embora o livro às vezes canse um pouco. Isto posto, é preciso dizer que pelo menos uma crônica do livro tem um valor literário inegável: “Tristezas: Tenho Três. Troco Por Algo do Meu Interesse”, na qual Jô Hallack analisa os classificados de uma publicação carioca chamada Balcão.
(Publicado anteriormente no Mondo Bacana)
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