Bones: “PaidProgramming2”
Música

Bones: “PaidProgramming2”

19 de agosto de 2016 0

Quem sabe Bones não estaria assim tão errado se tivesse chamado seu novo disco, “PaidProgramming2”, de “Powder2”. Do mesmo modo que para “Powder”, de 2015, para “PaidProgramming2” o rapper anunciou meses antes o lançamento do disco, com teasers no Youtube e tudo (quando o “processo” normal dele consiste no anúncio de novos álbuns pouco tempo antes do lançamento na internet – não esqueçamos que Bones sempre distribui de graça suas músicas). Fora isso, os dois discos têm um grande número de faixas (25 para “PaidProgramming2” e 28 para “Powder”) e um clima em geral mais tranquilo do que, por exemplo, aquele das obras-primas “Rotten”, “Garbage” ou “Deadboy”. De todo modo, é interessante ele ter criado um “volume 2” de “PaidProgramming”, um lançamento do já longínquo 2013 (época em que o nosso Elmo já tinha basicamente criado sua identidade artística própria), também mais ou menos tranquilo e com muitas faixas. A capa de “PaidProgramming2”, inclusive, é uma comparação para lá de interessante com a de “PaidProgramming”.

Comecemos pelos clipes lançados até agora: “TheCurseOfTheGhost” e “BlackMold” podem se inserir numa tendência recente de seus vídeos que, mesmo utilizando técnicas diferentes (por exemplo, o primeiro foi filmado com tecnologia moderna e segundo foi feito em VHS), utilizam primordialmente as cores preto, cinza, branco e azul (outros exemplos desta tendência são os de “WhereTheTreesMeetTheFreeway”, “TheDayYouLeaveThisPlanetNobodyWillNotice”, “GladWeHaveAnUnderstandig” e “Cholesterol”). Eu particularmente acho uma escolha feliz, e já tinha comentado aqui a beleza do clipe de “OakGroveRoad”, em que a utilização intensiva destas cores é a primeira coisa que chama a atenção.

Musicalmente falando, “PaidProgramming2” tem influências de vaporwave (“ArtVandelay”, “MagentaLavaLamp”, “TearsOfAnEagle”), faixas midtempo (“LivingstonCountyLegend”, “Biodegradable”, “SeeMeAfterClass”, “PeteyPablo”, a fantástica “Maggots”), outras mais tranquilas (a belíssima “WordsCannotEncapsulate”, “DeletedScenes”, “SeeMeAfterClass”, e a linda “AwayFromKeyboard”). Como no “PaidProgramming” original, “PaidProgramming2” termina com uma longa seção de “rádio” (“SeshRadio: Volume3”, mais ou menos antecipada pela faixa anterior, “FinalLevelCutScene”). E, como em “Powder” (de novo), o disco começa com uma vinhetinha acompanhada por um clipe com o nome do álbum.

As letras misturam amargura com o mundo (“Você pode ver a moral de toda esta merda? […] Pessoas cortando as cabeças umas das outras por causa de suas crenças / Pessoas morrendo nas ruas, e nós sentados nas nossas cadeiras” – “FinalLevelCutScene”), lirismo (“Chovendo nas janelas frias / Há tantas maneiras que o vento pode soprar […]  Você sabe querida / Eu vejo seu rosto, eu sinto seus ossos / Eu sei que estou vivo porque eu consigo sentir suas mãos em mim” – “TearsOfAnEagle”), isolamento (“Eu só estou tentando criar uma pílula para fazê-los sentir como eu me sinto”- “LivingstonCountyLegend”) , fantasmagoria (“Olhando no espelho, eu não posso ver nada / E a maldição do espelho, vou carregá-la até morrer” – “TheCurseOfTheGhost”), lembranças amargas da época da escola (“SeeMeAfterClass”) e agressividade (“Eu não preciso de seu elogio, caia fora do meu canto” – “MineralWashed”; “Estou cansado de clones” – “MyHeadHurt,INeedToLieDown”; “YourMusicSucksAndYouLookLikeADickhead” – o título já diz tudo).

Finalmente, o disco tem outro ponto em comum com “Powder”, que é não ter nenhum daqueles potenciais hits do rapper, como “Deadboy”, “RestInPeace” ou “Calcium”. Alguém poderá me dizer que as melhores faixas do disco, “TheCurseOfTheGhost”, “BlackMold”, “Timeless” e a fantástica “YourMusicSucksAndYouLookLikeADickhead” poderiam cumprir esta função, mas fica a dúvida. Explico-me: dificilmente algum fã deixaria de indicar para alguém que não conhece Bones, inicialmente, potenciais hits como “Corduroy”, “HDMI”  ou “RestInPeace”; já as faixas de “PaidProgramming2” (e as de “Powder”) seriam provavelmente deixadas para uma indicação mais tardia. Parece que com este novo disco Bones quis fazer um disco para quem já é fã.

E o fã aqui gosta mais do disco a cada audição – como também aconteceu com “Powder”, aliás.

(as letras, como sempre, foram obtidas no original no site genius.com)

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