“A ditadura envergonhada”, de Elio Gaspari
História

“A ditadura envergonhada”, de Elio Gaspari

29 de maio de 2016 0

O objetivo original de Elio Gaspari na publicação de sua história da ditadura militar brasileira foi contar os detalhes de como o presidente Geisel e seu chefe da Casa Civil, o Gal. Golbery do Couto e Silva, conseguiram desmontar o aparelho repressivo que possibilitou a tortura de opositores ao regime militar de 1964. O que era para ser apenas um livro acabou se transformando em cinco; o que era para ser a história de Geisel e Golbery (chamados respectivamente de “o Sacerdote” e “o Feiticeiro”) acabou se transformando num vasto painel sobre o regime militar, narrando o período pouco anterior ao golpe de 1964 até o seu final, em 1985. Isto é contado pelo próprio Elio Gaspari no início do primeiro dos livros da série, “A ditadura envergonhada” (Intrínseca), que abrange o período entre 1964 até a decretação do Ato Institucional n.5 (AI-5), no final de 1968, que retirou poderes do Legislativo e do Judiciário, eliminando assim os últimos resquícios democráticos do regime.

Supreendentemente (pelo menos para mim), Elio Gaspari afirma no início de “A ditadura envergonhada” que, meses antes do golpe de 1964, a situação política estava tão tensa que necessariamente o Brasil chegaria numa ditadura: se os militares de direita não tivessem assumido o poder, João Goulart teria implantado um regime nacionalista nos moldes do de Getúlio Vargas, com o auxílio dos militares de esquerda (o chamado “Aparelho”). O golpe de 1964 – ocorrido praticamente sem derramamento de sangue e com muitas hesitações por parte dos militares – é descrito com cores vívidas por Gaspari. O Gal. Castello Branco assume o poder, o qual queria devolvê-lo aos civis assim que terminasse o seu mandato. Paralelamente, começa a anarquia: militares de baixa patente assumem a parte mais pesada da repressão do regime, com torturas e perseguição dos opositores. Esta anarquia ainda estava mais ou menos controlada no governo de Castello Branco, mas a falta de punição dos primeiros casos de tortura acabou fazendo com que os militares de baixa patente envolvidos com a repressão começassem a se sentir cada vez mais poderosos. Com o final do governo de Castello Branco e o início da luta armada por parte da esquerda, a anarquia militar foi assumindo poderes de repressão e tortura cada vez maiores e, posteriormente à decretação do AI-5, o regime escreveria suas páginas mais negras – mas o recrudescimento do aparelho repressivo é história para o próximo livro da série de Elio Gaspari, “A ditadura escancarada”.

Fruto de uma impressionante pesquisa histórica e com um estilo preciso e sofisticado, “A ditadura envergonhada” é um livro de leitura fundamental para quem se interessa sobre este período turbulento da história do Brasil.

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