o que e quando
De 30 de junho a 2 de julho de 1934 a Alemanha viveu sua “Noite dos Longos Punhais”, o primeiro grande expurgo do Regime Nazista.
contra quem
O principal alvo deste expurgo foram as tropas de choque SA, os camisas-marrom, comandos paramilitares de assalto formados por desordeiros (grande parte originários da escória da sociedade: assassinos, bêbados, gigolôs, etc) incentivados pelo Estado. Graças ao caos e violência intimidatória que instalaram na Alemanha, as SA foram as grandes responsáveis pela subida de Hitler ao poder em 1933 ainda como Chanceler (cargo equivalente a Primeiro-Ministro). Aproveitando o ensejo, Hitler utilizou-se deste expurgo para mandar assassinar pessoas que sabiam demais (por exemplo, o sujeito que realmente redigiu Mein Kampf – a “bíblia” do nazismo, assinada por Hitler – e outro que sabia de detalhes da relação de Hitler com o grande amor de sua vida, Geli Raubal). Políticos inimigos obviamente também entraram na dança.
razões do expurgo
Logo após a ascenção do nazismo, as tropas de choque SA, que eram a ala “socialista” do movimento nacional-socialista (sinônimo de “nazista”), chefiadas por Ernst Röhm, começaram a falar numa “segunda revolução”, quando o socialismo seria finalmente implantado na Alemanha, com confisco de grandes propriedades, por exemplo, e posterior distribuição para o povo. As SA também queriam tirar poder do exército e passá-lo para elas mesmas, já que as mesmas tinham entre dois e três milhões de filiadas, sendo, portanto, a maior força popular da Alemanha. Hitler e o Exército não estavam gostando nada desta história, já que as grandes fortunas (banqueiros, empresários) iriam financiar as pretensões expansionistas de Hitler, e o Exército iria implementá-las.
Ernst Röhm
O comandante das SA era amigo íntimo de Hitler, a única pessoa a quem o Führer tratava por “du” (você). Herói da Primeira Guerra Mundial, homossexual, com uma enorme cicatriz no rosto, violento e um dos fundadores do movimento nacional-socialista, Röhm era o número dois do Partido. Era o principal alvo do expurgo.
organizadores
Os principais organizadores da noite dos longos punhais foram Göring (posteriormente o número 2 na sucessão nazista) e Himmler e Heydrich, respectivamente chefe e principal cérebro das SS, os camisas-preta. As SS queriam tirar o poder das SA junto a Hitler e passá-lo para elas mesmas. (As SS surgiram como guarda pessoal de Hitler, e acabaram como a maior, mais eficiente e mais letal organização nazista.)
razões alegadas do expurgo
Os assassinatos da Noite dos Longos Punhais foram justificados por uma farsa (até onde se pôde concluir): foi dito que as SA queriam dar um golpe de Estado e tirar o poder de Hitler. Nada disto jamais foi provado.
o expurgo
Em Wiessee, no Hotel Hanslbauer, estavam reunidos Röhm e seus lugares-tenentes. Tropas de choque das SS os despertaram no meio da madrugada e os levaram para uma prisão, onde a longa seqüência de assassinatos começou. De posse da lista preparada por Hitler e Heydrich, as SS varreram a Alemanha à procura das vítimas no dia 30 de junho e nos dois dias seguintes – ocorreu uma verdadeira carnificina.
trecho sobre a Noite dos Longos Punhais, do livro Berlim no tempo de Hitler, de Jean Marabini
“O general das SA em Berlim é fuzilado entre os outros no campo de execução da escola militar de Lichterfeld, no subúrbio sul. Os berlinenses ouvem os tiros. Eles não cessarão mais. Os SS atiram nos homens da seção de assalto a cinco metros de distância. (…) os prisioneiros aguardam sua vez. Fazem fila para morrer. Nas ruas, os transeuntes calam-se, perturbados. Observam os caminhões das SS sulcando a cidade com seus uniformes perdidos, rostos desfeitos, desta vez sem uniformes. Ninguém consegue dormir. No escritório da Prinz-Albert-Strasse, Heydrich fala ao telefone. Está em contato com as casernas onde ocorrem os fuzilamentos. Com um lápis azul, marca metodicamente as listas de nomes que ele mesmo fez. Nos paredões de execução grita-se, soluça-se, vocifera-se, cospe-se no rosto de antigos companheiros, grita-se “Heil Hitler!” Os cadáveres são empilhados. Trazem novas vítimas. Os muros estão vermelhos de sangue; o solo o verte. Gregor Strasse, cujos filhos são afilhados do Führer, também passa por isto.”
número de vítimas
Na época foi divulgado que houve 61 vítimas da Noite dos Longos Punhais (Longos Punhais era um termo utilizado numa canção das próprias SA para se referir às armas utilizadas por elas mesmas), mas posteriormente o número de vítimas foi estimado em até mil pessoas.
hipocrisia
Hitler, que desde o início nunca se incomodou se seus seguidores fossem bêbados, gigolôs ou homossexuais, declarou-se publicamente “horrorizado” com o comportamento sexual de Röhm e seus companheiros (homossexuais, muitos deles dividiam leitos).
conseqüências
O Exército sentiu-se aliviado após estes acontecimentos, pois não pairava mais no ar a ameaça das SA As SS finalmente conseguiram sua independência das SA. E não se falou mais em “segunda revolução” para o III Reich. E last, but not least, esta foi a primeira de uma série de horrores causados pelo III Reich.
coincidência
Hoje faz 67 anos que ocorreu a Noite dos Grandes Punhais. Acreditem em mim, é só coincidência.
(texto escrito em 30-06-2001)
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