Romance de um Prêmio Nobel sobre um período histórico fascinante e escrito com uma técnica literária brilhante, “Meu nome é vermelho”, de Orhan Pamuk, infelizmente não é a obra-prima que parecia ser.
A história se passa na Turquia do século XVI e conta a história de uma série de miniaturistas que recebem uma encomenda importante e secreta do sultão em comemoração ao primeiro milênio da fuga do Profeta Muhammad para a Meca: um livro de exaltação à riqueza do Império Otomano. O sultão pede que o livro seja feito segundo as técnicas de perspectiva renascentistas. Como isto vai de encontro à tradição otomana, vários mestres miniaturistas (como o Mestre Osman) se revoltam contra o pedido do sultão e contra os aqueles que estão trabalhando na obra – como o personagem chamado Tio. Este é pai de Shekure, uma moça belíssima que faz com que boa parte dos homens que se aproximem dela acabem se apaixonando. Quando ocorrem os acontecimentos narrados em “Meu nome é vermelho”, o marido de Shekure está já desaparecido há quatro anos, depois de ter partido para a guerra, e já é dado como morto. O irmão deste, Hassan, quer que ela se case com ele, mas o coração da moça se divide entre o cunhado e o personagem Negro Efêndi, rapaz que voltou de uma viagem longa e é apaixonado por Shekure desde a adolescência.
As tramas de “Meu nome é vermelho” se dividem em três enfoques principais. Um deles é policial: o jogo de intrigas entre os miniaturistas a respeito do livro para o sultão é tão violento que causa dois assassinatos; outro enfoque é a história amorosa cheia de desencontros entre Shekure, Hassan e o Negro Efêndi; finalmente, muitas páginas do livro são ocupadas com discussões sobre as técnicas de pintura utilizadas pelos miniaturistas, colocando a técnica otomana de um lado e a ocidental do outro. Um aspecto particularmente feliz do livro diz respeito à sua técnica literária: cada capítulo é contado em primeira pessoa por um dos personagens e, como a história é contada de maneira linear, frequentemente um acontecimento é contado inicialmente por um personagem que acaba “passando a bola” para outro.
“Meu nome é vermelho”, por outro lado, tem aspectos menos felizes: as discussões sobre arte são longas e repetitivas, com o autor repetindo várias vezes os mesmos argumentos; com exceção de Shekure e do Tio, os personagens são esquemáticos demais; finalmente, as tramas nem sempre conseguem despertar a atenção.
Dada o fascínio do tema e da brilhante técnica literária, creio que se “Meu nome é vermelho” tivesse apenas metade de suas quase 600 páginas, teria sido uma obra-prima.
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