Um livro
Literatura

Um livro

6 de dezembro de 2015 0

O livro tem 1445 páginas e é feito em papel bíblia “bolorada”, conforme informa ele próprio. O seu tamanho é de cerca de 11,0 cm por 17,7 cm, um pouco menor que o tamanho padrão dos livros encontrados em livrarias (como comparação, O Hitler da História, aqui do meu lado, tem 14 cm x 21 cm). A qualidade do papel e da encadernação são excepcionais: não há nenhuma folha em todo o livro (que é velho e usado, conforme se verá a seguir) que esteja em mau estado, ou prestes a cair. O cheiro (se me permitem esta digressão) é delicioso – para quem gosta de cheiro livros usados, é claro. O tipo da letra impressa é semelhante ao Times New Roman, provavelmente tamanho entre 11 e 12, com espaço simples – a qualidade da impressão, também, é excepcional. A capa é dura, mas um pouco maleável. Sobre esta capa, de cor azul-escura, existem mais duas capas soltas, que também fazem as orelhas do livro – onde se prendem a ele, graças às suas dobraduras. A primeira destas duas capas é a capa propriamente dita, que apresenta, nesta ordem e de cima para baixo: o nome do autor; a sua foto; o título do livro; os sub-títulos de todas as obras propriamente ditas, já que se trata de uma coletânea; o nome do compilador da coletânea; o nome da editora. Acima desta capa vem uma outra capa de plástico transparente, para proteger a anterior. Esta capa protetora, infelizmente, sofreu um pequeno corte na parte superior, no meio do nome do autor.

A editora do livro é a famosa Editora Gallimard, francesa. O livro, escrito em francês, faz parte de uma coleção chamada Bilbliothèque de la Pléiade (na contracapa estão escritos os nomes de diversos outros volumes desta “biblioteca”, como as obras completas de Choderlos de Laclos e de Montesquieu). A qualidade da coletânea é extraordinária. Os trabalhos mais importantes do autor são reproduzidos na íntegra, e as notas e a introdução, de autoria de André Billy, são claras e objetivas. O livro foi publicado em 22 de fevereiro de 1962.

Seu (quase que certamente) primeiro dono foi alguém cuja assinatura é algo como “pfernandez”. Difícil saber o nome exato. A cidade em que nosso amigo pfernandez comprou está escrita logo abaixo da assinatura, mas é completamente ilegível. Entretanto, a data da compra está bem clara: 30 de novembro de 1963.

pfernandez deve ter comprado o livro apenas e tão somente por causa do Traité du Beau (Tratado sobre o Belo). As páginas 1075 (primeira deste tratado), 1076, 1077, 1083, 1084, 1085, 1086 e 1087 são as únicas, em todo o volume, que têm passagens sublinhadas. Estes trechos sublinhados, às vezes com alguma pequena anotação no início dos parágrafos, indicam que, provavelmente, pfernandez comprou este livro para acompanhar algum curso. Por exemplo: no início de um trecho que resume um pensamento de Platon (o livro está escrito em francês) pfernandez escreveu a palavraPlatão à margem – sinal de quem tinha interesse em simplificar leituras futuras, provavelmente para ajudar em seus estudos (*). Dificilmente alguém que lê um livro apenas por prazer faz este tipo de anotação à margem (além deste Platão, há, entre pouquíssimas outras anotações, um Sto. Agostinho e um Wolff). Entretanto, fortes indícios mostram que pfernandez, provavelmente, não concluiu a leitura de Traité du Beau. O fato de não haver mais nenhum trecho sublinhado até a página 1112, final do Traité du Beau, é o primeiro sinal disto. Um segundo fato parece definitivo a este respeito: na página 1095 existe uma pequena dobra no canto superior, indício de que pfernandez parou a leitura por ali – provavelmente para não retomá-la mais.

Não há indicações de um outro possuidor do livro depois de pfernandez. O que é certo é que eu sou o possuidor do livro desde o início dos anos 90 (eu fui com a Valéria no Figaro, um sebo aqui em Curitiba, e o comprei simplesmente por que ela disse que eu ia gostar dele), assim como também é certo que eu gosto de Oeuvres, de Denis Diderot, quase que da mesma maneira que uma criança gosta de seu brinquedo preferido.

________________________________________________________

(*) o fato de estar escrito Platão (e não Platon) também revela que pfernandez falava português – provavelmente tendo importado o livro

(texto escrito em 2003)

0

There are 0 comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *