Cheguei cedo no estádio. Aliás, eu achava que era cedo. A verdade é que a pouco menos de duas horas antes do início do jogo o estádio já estava quase que totalmente lotado. Tive sorte, antes de chegar no estádio, em achar meu pai, minha irmã e meu cunhado, que estavam parados diante da entrada. Eles assistem o jogo nas cadeiras superiores, enquanto que eu assisto sozinho, nas cadeiras de baixo.
Depois de entrar no estádio, fui procurar um lugar para me alojar nas próximas quatro horas. Consegui um bem à esquerda das cadeiras, abrigado e próximo das arquibancadas populares. Era fácil perceber que muitos dos que estavam próximos a mim não eram assíduos freqüentadores do estádio, muito pelo contrário. Quando a torcida Império Alviverde desfraldou sua gigantesca bandeira como faz em todos os jogos, cobrindo o local reservado a ela, boa parte dos que estavam à minha volta – principalmente a família sentada na fila logo atrás de mim – aplaudiram o ocorrido, espantados.
Quando da minha chegada, uma dupla sertaneja estava fazendo um espetáculo. Depois dela, duzentos escoteiros abraçaram o gramado pregando a paz; uma cantora cantou, à capella, o Hino do Coritiba (a torcida adorou); depois da entrada dos dois times, uma banda tocou o Hino Nacional – que a torcida cantou em ritmo bem mais rápido que a própria banda.
Nesse meio tempo, eu, que estava achando que tinha levado o livro inutilmente, li com grande prazer o início da peça A Tempestade, de Shakespeare – foi bom eu tê-lo levado, pois diminuiu um pouco a tensão.
Quinze minutos antes de começar o jogo, larguei o livro e comecei a esperar. Os times logo entraram e o jogo começou.
O Coritiba já começou com grande iniciativa. Perdemos gols incríveis desde o início. O gol veio de pênalti – segundo o pessoal que estava atrás de mim com uma TV portátil, foi dito na transmissão que o jogador adversário não pôs a mão na bola. Dane-se. Aquela não era a hora para este tipo de comentário. Aliás, o pessoal da fila de trás começou a se superar. Não só a mulher chamou o Lima de Magrão, como, no final do primeiro tempo, ela começou a declarar em alto e bom som que estava tudo “arrumado” para o Coritiba ganhar. Se ela realmente soubesse algo a respeito ficaria quieta, não é? Francamente.
No segundo tempo, ao contrário do primeiro, o ataque do Coritiba atacaria do lado aonde eu estava. Foi ótimo isso, porque assim pude ver muito bem o belíssimo chute do Adriano na trave, assim como a bola em cobertura do Marcel que não entrou por pouco. E pude ver de perto o belíssimo gol de Edu Sales, um chute na veia da entrada da grande área.
Este gol significava, na prática, o final do Campeonato Paranaense – já que o Coritiba jogava pelo empate. Eu me senti estranho quando ele ocorreu. Parecia que ia passar mal, cheguei a sentar na cadeira – mas foi só. Logo me levantei, voltei ao normal e esperei o final do jogo. Quando este finalmente chegou, comecei a lacrimejar discretamente. Tanta luta, tanta torcida, tanto sofrimento – é disso o que a gente lembra nessa hora, não adianta.
(texto escrito em 2003)
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