“Romero Rômulo? O cara é ativista, diretor de uma fundação, comunista, passa a vida ajudando marginais…”
Impressões

“Romero Rômulo? O cara é ativista, diretor de uma fundação, comunista, passa a vida ajudando marginais…”

1 de dezembro de 2015 2

Das novelas a que já assisti, provavelmente “A regra do jogo” – a atual do horário das nove – seja a melhor de todas. Até pelo fato de não ter assistido a anterior de João Emanuel Carneiro – “Avenida Brasil”, de sucesso estrondoso -, estou impressionado com a qualidade narrativa e com as atuações desta ótima história policial. Mas não é sobre “A regra do jogo” como um todo que vou comentar aqui, mas sobre uma cena dela, que passou dia 19/11 último.

Na cena (que pode ser vista em http://globoplay.globo.com/v/4621446/), o mocinho Juliano (Cauã Raymond, ótimo) faz uma denúncia ao delegado Faustini (Ricardo Pereira) segundo a qual Romero Rômulo (Alexandre Nero) faz parte da parte da facção criminosa que domina a maioria dos acontecimentos em “A regra do jogo”. A incredulidade de Faustini é evidente:

“Romero Rômulo? O cara é ativista, diretor de uma fundação, comunista, passa a vida ajudando marginais…”

Esta cena passou no anúncio do capítulo, e de cara alguma coisa me pareceu meio errada – mas não sabia exatamente o quê. Logo consegui perceber o que era estranho: em uma novela da Globo – a maior emissora de televisão nacional, criticada por grande parte dos esquerdistas – um personagem não poderia ser criminoso e corrupto porque era “comunista”. Quanta diferença na percepção das coisas!

Por causa da minha idade, nunca cheguei a sofrer com a repressão da ditadura. O máximo a que cheguei foi me achar o maior “comunistão” por comprar uns jornais radicais de esquerda no Colégio Estadual do Paraná em 1982, onde estudei quando tinha quatorze anos. Graça à fama que os comunistas tinham na época, aquilo me parecia uma transgressão enorme – por mais que eu fosse incentivado por minha mãe no meu esquerdismo juvenil. E sim, o presidente na época era o general Figueiredo (o último da ditadura), mas a censura já estava nos seus estertores.

Eu gostava muito de política e só deixei o esquerdismo de lado em 1989, quando Mario Vargas Llosa dirimiu a grande dúvida que eu tinha: segundo ele, os países da América Latina eram pobres não por excesso de capitalismo, mas por excesso de clientelismo. De lá para cá, não mudei muito de opinião quanto à melhor condução da economia – sou favorável ao capitalismo liberal -, mas tenho tantas opiniões “esquerdistas” (sou a favor do bolsa-família desde o início do governo Lula e das cotas nas universidades, por exemplo) que devo ser o cara mais centrista num raio de alguns quilômetros. Mas isso não importa. O que importa é que, hoje em dia, ser comunista – ao contrário do que ocorria na minha adolescência – não é mais ser mau: é se preocupar com os pobres. Até numa novela da Globo já se percebeu este fato. Deve ser por isto que grande parte dos meus amigos é de esquerda. Não tolero certas atitudes elitistas, não mesmo.

P.S.: Não podia deixar de aproveitar para elogiar as colunas de Vladimir Safatle às sextas na Folha. Quando soube que ele iria assumir o espaço dos colunistas na Ilustrada, achei que teria uma irritação semanal com ele. Que nada! Ele é tão brilhante que não preciso concordar com suas opiniões para admirar sua clareza, seu poder de raciocínio… e seu amor pelos pobres.

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There are 2 comments

  • Ficou muito bem no papel dele em Reza a Lenda, pena que não capricharam muito na apresentação dos personagens. Ficou bem superficial

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