A melhor música do rock nacional de todos os tempos
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A melhor música do rock nacional de todos os tempos

27 de novembro de 2015 0

Eu não gosto de rock nacional. Eu sei que isto é feio, mas é verdade. É verdade que tem uma banda que um amigo me fez escutar um dia e que adorei, chamada Mutantes. E, confesso, adoro Charlie Brown Jr. Já quanto a Raul Seixas, Camisa de Vênis, Ultraje a Rigor, Bidê ou Balde, e Legião Urbana, por exemplo, são legais, sem dúvida. Mas não compraria um disco deles. Os que eu tenho do Legião, por exemplo, estão pegando mofo. Quanto ao resto – Paralamas, Titãs, Biquíni Cavadão, Capital Inicial, Barão Vermelho, Kid Abelha, Raimundos, só pra citar alguns famosos -, minha opinião varia do desprezo completo ao ódio agressivo.

Com este handicap desfavorável, também reconheço que deve ter coisa legal por aí, mas que a preguiça simplesmente me faz ignorar. Que feio.

Mas numa destas madrugadas de tédio diante da MTV apareceram num clipe quatro garotos de bermuda, com cara de piá MESMO e vestidos, todos, de bermuda e camisa colorida. Não parecia nada de especial. Uns meninos que se a gente vê na rua despertam alguma simpatia pelo tal “frescor da juventude” (hehe, é duro estar com 33) e nada mais. Uns cabelos curtinhos, umas caras boas.

Daí eles começaram a cantar. O som era um hardcore pesado, animado – a alegria dos meninos em estar cantando aquela música era contagiante: a entrega, a garra, a gana são coisas que simplesmente não se vêem no rock nacional. Eles pulavam, se esgoelavam, e tocavam seus instrumentos com uma energia notável. Os meninos (o vocalista principal e dois backing vocals) disputavam o microfone numa concorrência pra lá de amistosa, que os deixava (e a mim também) felizes por estarem participando daquilo. Eles sabiam que a música iria acabar logo em seguida – e trataram aqueles minutos como se fossem os últimos, como se toda a felicidade do mundo pudesse ser resumida em dois minutos de hardcore.

A letra é tão emocionante quanto o resto. A namorada disse que havia algo errado com o relacionamento. Mas o garoto dizia que continuava do mesmo jeito, tênis furado e tal. Ele iria continuar “sem olhar” o que deixou “pra trás”. E ele concluía: “sobre meus passos vou caminhar / sobre meus passos nunca mais vou errar”. A hora do “nunca mais vou errar”, com todo o mundo se esgoelando no mesmo microfone, é, como se pode imaginar, o êxtase. Simples, direto e meio brega – bem como eu gosto.

No clipe aparecem ainda cenas da namorada brigando e depois voltando com o garoto, um nerd, num parque de diversões. Ele dá uma flor pra ela, ela joga para cima e o beija. Estas cenas lembram muito o clipe de “Ask” dos Smiths – o nerd se dando bem (isto é bom acontecer de vez em quando, né?). O fato, ainda, de ser num parque de diversões dá ainda uma idéia de juventude, de infantilidade saudável e de frescor. Coisa linda.

Pois é – procurei na internet o nome da banda (CPM22) e nada. Nem sei se eles existem ainda. Pena. Se eles não existirem mais, pelo menos podem ir para casa tranqüilos, pois fizeram a melhor música (“Anteontem”) do rock nacional de todos os tempos.

(texto escrito em 2001)

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