O programa Eutanásia (extermínio de deficientes e de pacientes terminais) foi um programa extremamente representativo, no sentido de revelar a ideologia nacional-socialista. Hitler queria embelezar o mundo. Seu ideal era um mundo sem judeus e ciganos, e habitado pela raça ariana, bela, forte, saudável e loura, que utilizaria os eslavos como escravos. Neste mundo perfeito obviamente não haveria lugar para deficientes de nenhum tipo. Hitler levava o darwinismo às suas últimas conseqüências: apenas os mais fortes deveriam sobreviver, de acordo com sua interpretação distorcida das leis da evolução. Deste modo, deficientes físicos (aleijados, surdos, cegos, por exemplo), deficientes mentais e pacientes em estado terminal não tinham lugar no mundo ideal nacional-socialista, não apenas por não corresponderem aos padrões estéticos vigentes, como também por serem um fardo econômico para a Alemanha.
Já em 1933, assim que tomou o poder, Hitler implementou um programa radical de esterilização obrigatória em massa dos considerados deficientes. Após ser estabelecido por uma junta médica que o paciente não deveria reproduzir, para não atrapalhar o patrimônio genético alemão, o deficiente era esterilizado, muitas vezes por processos dolorosos e traumáticos, como radiação.
Em 1938 surgiu o programa T-4, nome oficial do programa de extemínio de deficientes. Este extermínio era feito normalmente em câmaras de gás ou por injeção letal, em centros de extermínio em Bernburg, Brandenburg, Grafeneck, Hadamar, Hartheim, e Sonnenstein. Pacientes eram selecionados por médicos e transferidos de suas clínicas para estes centros de “limpeza”, conforme o eufemismo da época. Conforme a propaganda nazista, os deficientes eram “coitados” que não tinham condições de sobreviver, e, deste modo, sua morte deveria ser feita de maneira a causar o menor sofrimento possível. Mas freqüentemente isto era mentira, pois muitos deficientes eram assassinados por processos dolorosos e traumáticos, como envenenamento lento ou por simples inanição. Já os assassinatos em câmaras de gás serviram de preparação para os assassinatos em grande escala ocorridos mais tarde, durante o Holocausto, e conseqüentemente, muitos técnicos do Programa T-4 foram reaproveitados nos assassinatos-monstro de judeus.
Graças a pressões da sociedade alemã, notadamente familiares dos deficientes e autoridades do exército e e religiosas, o programa T-4 foi encerrado em 1941. Como notou Daniel Goldhagen em “Os assassinos voluntários de Hitler”, esta reação da sociedade mostra duas coisas: 1) os alemães, no período nazista, tinham muito mais direito de se manifestar do que normalmente se supõe; 2) quando submetidos a pressões, os nazistas recuavam. A conclusão, óbvia, de Daniel Goldhagen, é que os alemães não se interessavam pelo destino dos judeus, pois quase nada fizeram contra os Holocausto…
Apesar de oficialmente encerrado, o extermínio de deficientes e pacientes terminais continuou na Alemanha Nazista até pouco depois do final do encerramento da guerra. Os deficientes eram submetidos a trabalho escravo (numa flagrante contradição com a idéia de que eles eram improdutivos e um fardo para a sociedade), submetidos a tratamento degradante (por exemplo, muitos surdos eram obrigados a usar um chapéu escrito “burro e surdo”), deixados morrer por inanição ou simplesmente assassinados (quando invadiam uma cidade, por exemplo, os nazistas matavam todos os pacientes em hospitais psiquiátricos).
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