Se, como dizia Henry David Thoreau , “os livros são o tesouro precioso do mundo e a digna herança das gerações e nações”, os livros da Penguin Classics – que em português são lançados numa parceria com a Companhia das Letras, a “Penguin-Companhia das Letras” – são um tesouro ainda maior. A qualidade literária dos lançamentos é inquestionável; as edições, impecáveis; as notas, introduções e/ou posfácios são escritos por especialistas gabaritados; os preços, acessíveis; por último, mas não menos importante, os tipos utilizados tornam a leitura agradável. Dois livros da Penguin-Companhia das Letras que li recentemente ajudam a confirmar o que foi dito acima.
“As afinidades eletivas”, romance escrito por Goethe em 1809, conta a história de um casal de viúvos, Eduard e Charlotte, que, um tanto por falta do que fazer (os casamentos de ambos tinham-lhes deixado grandes fortunas), convidam um capitão (amigo do marido) e uma moça (sobrinha da mulher) para morar com eles. Eduard se apaixona pela sobrinha da esposa, Charlotte pelo capitão – e isto acaba trazendo consequências sérias para todos.
Pela edição da “Penguin-Companhia das Letras” ficamos sabendo das características da novela alemã dos séculos XVIII e XIX (gênero aproximado ao qual pertence “As afinidades eletivas”), como a não utilização de sobrenomes (e às vezes, nem de nomes) dos personagens e a ênfase nas descrições de acontecimentos – e não nas de estados de espírito. Aprendemos também que muito do estilo elogioso de Goethe para com seus personagens não passava de ironia contra endinheirados basicamente inúteis, entediados e sem cultura. Finalmente, temos a notícia de que não havia nenhum escândalo em se divorciar naquela época na Alemanha.
A edição da Penguin-Companhia das Letras do clássico “O médico e o monstro”, de Robert Louis Stevenson (publicado em 1886) é ainda melhor: nela, ficamos sabendo da relação deste clássico do terror com outros livros semelhantes da época (como “Drácula”, de Bram Stoker, e “Frankenstein”, de Mary Shelley); da influência duradoura que o livro exerceu (por exemplo, no também clássico “O retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde); da relação do romance com a sociedade, com a psicologia e mesmo com a religião da época; dos detalhes literários que ajudam a fazer de “O médico e o monstro” o livro extraordinário que é.
Os livros do selo Penguin Classics são mesmo um tesouro. Não é à toa que Morrissey resolveu lançar sua autobiografia por ele!
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