Um dos LPs que ouvi à exaustão durante a adolescência foi o fascículo referente a Henry Purcell da série Mestres da Música. São suítes com normalmente 4 partes cada (um prelúdio inicial seguido de algumas danças, allemanda, courante, sarabanda, estas coisas).
Não, nunca me liguei muito em Henry Purcell, não – só sei que era inglês e viveu no sec. XVII. Cheguei a comprar um cd com peças vocais dele… mas nem sei onde anda, não fez parte da minha vida. Só as “Oito Suítes para Cravo” foram importantes. Não, nunca me liguei muito pra saber qual delas era o prelúdio, qual delas a allemanda, onde começava a primeira suíte e começava a segunda: só o que sei é que o LP todo é uma sequência muito agradável de peças ao cravo.
Acontece que às vezes aparece uma dança, meio que do nada, com uma beleza lancinante – tão bonita que chega a doer. Dá até angústia. De outra maneira não sei explicar.
Fiquei muitos anos sem ouvir o LP.
Um belo dia, mais velho, fui mexer no meu grande amigo de adolescência, coloquei-o na vitrola, e doeu. Doeu muito. Não pude ouvir mais. Será que era assim que eu ouvia o disco? Será que, aos 15, 16, anos, era assim que eu me sentia? Acho que sim. Eu praticamente tinha feito uma viagem no tempo, e foi dolorosa. Tudo bem que a música é meio melancólica, mas aquela dor toda era minha mesmo.
Agora eu tenho novamente uma grande facilidade em ouvir meus velhos LPs… e, claro, num outro belo dia peguei o meu velho Purcell, e meio com medo, pus pra tocar aqui em casa. Surpreendentemente, esta música não me doeu mais. Não senti mais nada, só prazer de ter ouvido uma música belíssima.
(texto escrito em 2001)
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