“Me and the devil blues”
Literatura, Música

“Me and the devil blues”

1 de maio de 2015 0

Early this mornin’ / when you knocked upon my door / Early this mornin’, ooh / when you knocked upon my door / And I said, “Hello, Satan,” / I believe it’s time to go.” / Me and the Devil / was walkin’ side by side / Me and the Devil, ooh / was walkin’ side by side / And I’m goin’ to beat my woman / until I get satisfied /

She say you don’t see why / that you will dog me ‘round / spoken: Now, babe, you know you ain’t doin’ me right, don’cha / She say you don’t see why, ooh / that you will dog me ‘round / It must-a be that old evil spirit / so deep down in the ground /

You may bury my body / down by the highway side / spoken: Baby, I don’t care where you bury my body when I’m dead and gone / You may bury my body, ooh / down by the highway side / So my old evil spirit / can catch a Greyhound bus and ride

Tradução:

Esta manhã bem cedo / você bateu na minha porta / Esta manhã bem cedo / você bateu na minha porta / E eu disse: “oi satã, acho que está na hora de a gente ir” / Eu e o diabo / andávamos lado a lado / Eu e o diabo / Andávamos lado a lado / E eu vou bater na minha mulher / até ficar satisfeito /

Ela diz: “você não sabe nem por que / fica me seguindo por aí” / [falado:] “agora, baby, você sabe que não está sendo legal comigo, não é?” / Ela diz: “você não sabe nem por que, oh / fica me seguindo por aí / Deve ser aquele espírito velho e mau / lá do fundo da Terra” /

Você pode enterrar bem meu corpo / ali do lado da estrada / [falado:] “baby, não me interessa onde você vai jogar meu corpo quando eu estiver morto e enterrado” / Você pode enterrar bem meu corpo, oh / ali do lado da estrada / Então meu espírito velho e mau / pode tomar um ônibus e passear

“Me and the devil blues”, daquele que é considerado por muitos o maior bluesman de todos os tempos, Robert Johnson, é notável, com uma letra ao mesmo forte, criativa e irônica. Mostra um homem (possivelmente o próprio Robert Johnson?) que tem boas relações com o “coisa-ruim” e péssimas relações com sua companheira (Willie Mae?)

Os versos iniciais da letra já são de um grande impacto: “Esta manhã bem cedo / você bateu na minha porta / E eu disse: “oi satã, acho que está na hora de a gente ir” / Eu e o diabo / andávamos lado a lado”. A intimidade com satã, quase sempre tão temido, cria uma imagem forte e até engraçada (pensar no diabo batendo na casa de um sujeito, ouvir um oi e ainda sair andando com ele é totalmente inusitado, para falar o mínimo). Normalmente fala-se do diabo sempre com temor, submissão, desprezo ou ceticismo – intimidade eu nunca tinha visto (Morrissey, na canção “satan rejected my soul” [satã rejeitou minha alma] também trata o diabo com intimidade, mas é bem mais debochado). O impacto desta imagem é que me fez ter maior interesse pela letra. Depois deste início promissor extraordinário, o autor diz que vai “bater na mulher até ficar satisfeito”. Outra surpresa aqui: uma violência que surge de chofre, brutal e de forma quase gratuita. Mas esta violência vinda tão de supetão acaba parecendo deboche também.

Na estrofe seguinte há uma mudança de foco inesperada (mas, de certa forma, ainda dentro do tema). Poder-se-ia esperar a continuação da ideia violenta do último verso da estrofe anterior, mas o que se vê (apesar de isto não ser muito claro) são as desconfianças da companheira do autor com relação às “más companhias” (o demo, afinal de contas) do autor: ” ‘você não sabe nem por que, oh / fica me seguindo por aí’ / Deve ser aquele espírito velho e mau / lá do fundo da Terra”. Ela imagina que ele não tem controle sobre seus atos, que são controlados pelo diabo? Provavelmente.

A última estrofe é irônica, novamente. Agora o autor ironiza as ameaças, implícitas na letra, que sua mulher faz contra ele. Ela diz que ela pode enterrar o corpo dele do lado da estrada, mas não importa onde o corpo esteja. Mas de lá o seu espírito velho e mau pode pegar um ônibus e passear. Além desta imagem do espírito pegando um ônibus ser também inesquecível, é interessante notar que agora o personagem fala de seu próprio espírito da mesma maneira que sua companheira tinha falado do espírito de satã: já não se sabe quem é o diabo, quem é o personagem da letra.

O interessante nesta letra, além das imagens supracitadas, é o tanto que é sugerido, em relação ao pouco realmente visto. Cada estrofe forma um “flash” com, aparentemente, pouca coisa a ver com os demais – mas estas três estrofes acabam formando um conjunto: o que temos diante de nós é um homem (o autor?) vicioso, mau e que simplesmente não consegue se entender com a companheira.

(texto escrito em 29 de setembro de 2001)

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