Livros que minha mãe amava: 1. “O filho eterno”, de Cristóvão Tezza
Literatura

Livros que minha mãe amava: 1. “O filho eterno”, de Cristóvão Tezza

3 de dezembro de 2023 0

Gosto de ler basicamente por causa da minha mãe. Foi ela que sempre me incentivou à leitura, e passamos boa parte da vida trocando indicações sobre livros. Na adolescência, em geral, eu não gostava muito das obras que ela me recomendava, e o inverso quase sempre também era verdadeiro. Só com a idade adulta comecei a curtir os livros que ela me indicava, quando comecei a entender as questões levantadas por escritores que ela amava, como John Updike e Philip Roth.

Falecida há pouco mais de seis meses, uma das maneiras de me lembrar dela – sempre uma lembrança doce, principalmente, no meu caso, quando se trata de livros – tem sido ler (ou reler) livros que ela gostava e descobrir o que acho sobre eles, agora.

Pretendo que esta série “Livros que minha mãe amava”, que começo agora no meu blog, demore bastante, e que eu consiga inserir muitos textos nela. Não sei se lembro de um número muito grande de comentários dela sobre o que ela lia, mas os livros da minha mãe – os que eu não roubei com o passar dos anos – estão na casa do meu pai, passo horas vendo aquele grande número de prateleiras abarrotadas e é inevitável eu me lembrar de uma coisa aqui e outra ali. Se eu não me lembrar de nada, o estado do livro pode me indicar se ela o leu ou não!

O primeiro livro da série “Livros que minha mãe amava” é “O filho eterno” (Record, 224 páginas, lançado originalmente em 2007), sucesso extraordinário do escritor catarinense, que vive em Curitiba desde criança, Cristovão Tezza. O romance, de autoficção, conta a história do próprio autor com os problemas gerados pelo nascimento de um filho com síndrome de Down.  Passando ao largo da pieguice, Cristovão Tezza, com uma técnica literária impecável – a narração vai e volta ao passado de maneira suave, acessível e, muitas vezes, emocionante –, conta o quanto se sentia mal em ter um filho com uma condição especial. O interessante é que o autor não poupa os leitores nem de sua postura pouco recomendável em relação ao filho, nem das suas duvidosas decisões pessoais e profissionais. O romance é uma pequena obra-prima, que fez por merecer o imenso sucesso a que chegou – a ponto de ter tido um filme, lançado em 2016 e com Marcos Veras e Débora Fallabella nos papéis principais, baseado nele.

No final da sua vida minha mãe sempre citava este livro, e me contava a cena final do filme (a que não assisti, aliás) e sua diferença em relação ao que acontecia no romance original.

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