“Meu Nome Não é Johnny – A Viagem Real de um Filho da Burguesia à Elite do Tráfico”, de Guilherme Fiuza
História

“Meu Nome Não é Johnny – A Viagem Real de um Filho da Burguesia à Elite do Tráfico”, de Guilherme Fiuza

25 de abril de 2021 0

Todo o mundo já deve ter ouvido aquela teoria de que os “verdadeiros” grandes traficantes do Rio de Janeiro moram confortavelmente em apartamentos na Zona Sul carioca, não nos morros. Quando se lê o subtítulo de Meu Nome Não é Johnny – A Viagem Real de um Filho da Burguesia à Elite do Tráfico, de Guilherme Fiuza (Editora Record, 336 páginas), pode-se pensar que estamos diante de um caso destes – ou seja, o de um traficante realmente grande com educação burguesa. Sinto decepcionar os partidários desta teoria da conspiração, mas a história contada neste excelente livro é um pouco diferente.

Meu Nome Não é Johnny conta a história de João Guilherme Estrella, rapaz bem nascido que gosta de tocar músicas em seu violão e que cedo começou a se envolver no meio artístico. A partir da convivência com a “turma” vêm as primeiras experiências com drogas. Primeiro a maconha, depois o LSD e então a cocaína – que acaba viciando-o. Como necessita de cada vez maiores quantidades para consumo próprio, ele começa a vender pó (ainda em pequena escala) para arranjar dinheiro. Isto o faz entrar em contato com alguns traficantes e a coisa vai aumentando. Estrella arruma esquemas para traficar quantidades cada vez maiores diretamente da Bolívia: a cocaína que ele conseguia lá – apelidada de “Nelore Puro” – era a mais pura do mercado de drogas no Rio da época (final dos anos 80/início dos 90).

Juntando o grande conhecimento da sociedade carioca que tem João Guilherme Estrella (ele sempre fora um sujeito extremamente sociável e simpático) com a qualidade insuperável de seu pó, é óbvio que o resultado só pode ser um. O rapaz da Zona Sul transforma-se em um grande atacadista de drogas, chegando a fazer viagens para Amsterdam para fazer grandes vendas do “Nelore Puro” na Europa). E, claro, neste tempo todo ele continua ingerindo quantidades fenomenais de cocaína.

Mas se Estrella já passa a ser um grande traficante em termos de quantidade, em termos de violência ele não pode ser comparado aos chefões do morro. Impulsivo, pouco se importando com as conseqüências de seus atos, não só ele não tem segurança pessoal como sequer anda armado. Logo a Lei está atrás dele. Na primeira vez consegue se safar da polícia através de suborno. Na outra isto não é mais possível. É preso, recebendo uma condenação leve, em um grande momento da juíza que o condenou – pois ela, acertadamente, acreditava no caráter de João Guilherme Estrella.

Mas nem por isto o sofrimento que o protagonista passa, tanto na cadeia quanto no manicômio judiciário, são pequenos. Todos estes maus momentos acabam ajudando o rapaz da Zona Sul a se redimir. Atualmente, ele trabalha como produtor musical, não trafica mais e está recuperado do vício da cocaína.

Meu Nome Não é Johnny (o título é baseado na notícia do Jornal do Brasil; quando da prisão do traficante, o diário carioca escreveu que seu apelido era Johnny – o que nunca fora verdade) é uma obra extremamente bem escrita, em uma linguagem simples, direta e envolvente. É o tipo do livro difícil de parar de ler. Outra qualidade é que, em nenhum momento, o autor Guilherme Fiuza parece querer dar uma lição de moral aos leitores.

Fiuza nem precisa disto, na verdade. A história fala por si.

(Publicado no Mondo Bacana em 2008)

(foto obtida no Posfácio)

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