O rei grego (ou “aqueu”) Agamêmnon, depois de uma campanha vitoriosa contra Tebas, fica com Criseida, filha do sacerdote Crises, como espólio de guerra. Este tenta de todas as maneiras recuperá-la, apelando finalmente ao deus Apolo, que concorda com o pedido do pai desesperado e começa a enviar flechas mortíferas contra Agamêmnon e suas naus. Para acalmar a ira do deus, o rei concorda em devolver Criseida para o pai mas, como compensação, resolver roubar Briseida, que tinha sido obtida como espólio de guerra por Aquiles. Este fica furioso com o Agamêmnon e para de combater na guerra que está sendo lutada – a guerra de Troia. Quando a situação está complicada para os gregos, Aquiles – filho da deusa do mar Tétis com um mortal, Peleu, rei dos mirmidões – volta para batalha, não por causa da guerra em si, mas para vingar-se do maior dos guerreiros troianos, Heitor, devido ao assassinato de Pátroclo, seu melhor amigo. Nas batalhas da guerra, é importante acrescentar, os deuses influenciam decisivamente – parte defendendo um lado, parte defendendo o outro.
Este, em linhas gerais, é o argumento principal de “Ilíada”, do poeta grego Homero (Penguin–Companhia das Letras, 715 páginas), obra fundadora da literatura ocidental juntamente com “Odisseia”, do mesmo autor. A maioria dos estudiosos situa a criação destas duas obras entre o final do século VIII a.C. e o início do século VII a.C.
A edição da Penguin-Companhia das Letras é caprichadíssima, com comentários (introdução, apresentação, prefácio e posfácio), glossário e índice remissivo englobando cerca de 120 páginas. Para quem quiser se aventurar em “Ilíada”, recomendo a leitura destes “extras”, já que a obra é extremamente complexa para o leitor de hoje, não só por causa das referências, como também devido ao linguajar utilizado. Como um exemplo, se não fosse a introdução eu não saberia que os gregos, na obra, são chamados de “aqueus”, “argivos” e “dânaos”, e que os troianos, por sua vez, são também denominados de “dárdanos”, “dardânidos” ou “dardânios” pelo poeta. E, num livro que descreve uma guerra com descrições de mortes e assassinatos de uma enorme quantidade de personagens, se não fossem os extras desta edição eu jamais imaginaria que o objetivo de Homero era criticar esta mesma guerra.
Ou quem sabe eu tivesse percebido este objetivo pacifista do poeta, sei lá. Afinal de contas, é difícil deixar de se sentir mal com tanta violência e com tanto ódio, descritos com um brilhantismo e uma intensidade que nem precisariam ser comentados aqui – afinal de contas, a perenidade de “Ilíada” nunca foi objeto de discussão desde que a obra foi composta, há mais de dois mil e seiscentos anos.
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